Acho
graça ao sentido prático destas criaturas. Reconhecendo-se de passo
lento, transportam com eles a casa, não vá o trajecto ser ainda
mais demorado do que o previsto e precisarem de descansar algures.
Bem gostava eu de os observar na tarefa de se recolherem em momentos
desses mas imagino que gastarão algum tempo a encaixar-se naquela
assoalhada em espiral. Espirais só conheço bem as dos meus
ouvidos que, de forma aleatória, interferem na normalidade da minha
vida ao ponto de quase me darem vontade de me agarrar ao chão em
busca de terra firme e rastejar à maneira dos ditos caracóis. Não
que queira imitá-los, longe disso, a ideia é tentar minimizar as
consequências das terríveis vertigens que, sei lá por que
desacerto na minha configuração auditiva, põem o mundo a rodopiar
e eu dentro dele em desequilíbrio acelerado. Aliás, um
desequilíbrio assaz desagradável e nauseado. Mas pelos vistos a tal
espiral da assoalhada não apoquenta os caracóis, nem sequer na fragilidade
calcária das suas conchas deixa mossas, presumindo eu que
proporcionará bom aconchego ao seu corpo mole. Enfim,
cada um tem a vida possível. Há quem embirre com eles pelas mais
diversas razões. Conheço algumas dessas embirrações e imagino
mais duas ou três quando oiço alguém usar com desdém a expressão
“Não vale um caracol” a propósito de qualquer coisa de somenos
importância. Uma opinião, claro, porque “cada cabeça sua
sentença”, para outras pessoas talvez possa valer muitos caracóis.
Singularidades do ser humano.
M
Sem comentários:
Enviar um comentário