Um
recanto da minha sala de estar onde tantas vezes o meu olhar e o meu
pensamento se encontram em conversa aprazível sobre os objectos que
ali moram. Amo estas personagens a quem atribuo sentido e ligação
com o mundo a que pertenço como ser humano. Um mundo de
universalidade e de particularidades, de realidade e sonho, de
intenções, de beleza, de fealdade, de amor e ódios, de desalento,
de esperança, de solidariedade e abandono, de devaneios e desilusão,
de energia e lassidão, de bondade e brutalidade, de angústias, de
comportamentos ora idênticos ora diferentes perante o desenrolar da
existência. Ramificações, julgo eu, de uma raiz inicial a que
chamo desejo de vida, comum a todas as gerações, ainda que com os
traços peculiares de cada época. A propósito... a forma arredondada
a espreitar do lado direito da fotografia cativa-me. Bem sei que ela
é, na realidade, a parte visível do abat-jour
branco de um candeeiro pousado na mesa mas lembra-me uma barriga
grávida de vida. Não
me digas que é por eu dar a luz. Não estarás a divagar demais? A
rapariga não te merece nenhuma referência? Claro
que merece, gosto muito dela. Caminha entre luz e sombras, entre
pausas e passos, consciente das ambivalências existentes. Contudo,
suponho que lhe agradaria embarcar naquela nave estacionada ali atrás. Para ter uma visão mais ampla do Universo.
Pronto,
rendo-me às tuas conjecturas. Noutra ocasião falaremos nós de ti.
Também te observamos quando te sentas nesse sofá, pensativa.
M
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