Vamos à procura dos músicos. Não os oiço nem o toque efusivo dos sinos canta na serra. Talvez estejam a descansar. Imóveis os sinos na torre da igreja, os homens no adro, em conversa animada depois de saborosa refeição, a chanfana e o vinho da região a seduzir-lhes os sentidos. Os mordomos encarregados de organizar as festividades da padroeira da aldeia esmeraram-se na tarefa, que o acontecimento é de relevo numa povoação determinada em manter na memória esta parte da vida que lhe pertence. Escolheu-se a banda, ter-se-ão ajustado os euros a pagar, quantos não faço ideia. As conversações terão demorado várias horas, propostas e contrapropostas, assim me diz a experiência da minha vivência naquele lugar onde cada um observa o outro, nas mãos o copo de vinho da adega da casa, ou de aguardente, oferecidos entre palavras ditas e pensamentos resguardados. O contrato habitual é que toquem os músicos na missa e, finda esta, acompanhem solenemente a procissão atrás do padre e dos andores com as imagens dos santos. Só depois almoçam no salão da Junta de Freguesia, envolvidos pela azáfama das mulheres a servir convidados e mordomos. Um dia de alvoroço na rotina da existência. Festas desejadas ainda pelos escassos habitantes e pelos seus familiares emigrados que em Setembro revivem por breves dias a história de um tempo. Sim, encontrei-os no lugar por mim previsto. A fazer a digestão dos petiscos beirões e a prepararem-se para de novo subir e descer a rua principal da aldeia a tocar, antes de regressarem às suas terras. E eu, comovida, ouvi-os. Como sempre. Naquele momento e na grata lembrança das férias de verão da minha meninice.
M
4 comentários:
M., o teu texto podia representar uma cena igual numa pequena aldeia ao rés da serra d'Aire - só precisava de mudar o mês para Agosto e o petisco aqui é o carneiro guisado. O resto é igual, e eu, como não vou à missa, espero ansiosa a passagem da banda aqui à porta, onde às vezes param para um descanso, meia dúzia de palavras e mais um copo de vinho!!!
Quando há um ano de festa sem banda, acredita que fico triste...
Ainda bem que se regeneram estas coisas da terra e das gentes. As raízes são o que nos prende à terra, mesmo emigrados em outros mundos, mesmo imigrados nas cidades.
Na foto gosto principalmente do trombone. Parece de prata.
Teresa
apetecia continuar a ler! Bela foto para um belo texto, M.!
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