Por
razões profissionais tive que entrar num prédio que me partiu o
coração logo à entrada ao olhar para as caixas do correio: uma de
cada cor, presas por arames improvisados, remendadas, com a
identificação escrita à mão, nunca tinha visto nada assim. Como é
que se estraga uma caixa de correio? E tantas estragadas? Terá
havido algum mau fígado, vingança, bebedeira, partida juvenil,
briga a provocar o estrago geral e depois cada um reparou como pôde?
O resto do prédio combinava com o cartão-de-visita, o tecto da
caixa de escadas estava danificado em vários pontos, eufemismo para
“inexistente”, e era visível a telha e a estrutura de madeira de
apoio da telha, algumas torneiras de segurança da água tinham a
tampa violada, as paredes escavacadas, a sujidade confundia-se com os
materiais. A casa onde entrei, a razão profissional de entrar no
prédio, tinha uma parede negra de fungos de humidade, infiltrações
da chuva, tudo isso acumulado ou mais alguma coisa. O que importa, é
tarde demais. A degradação instalou-se. Mas o que é isto?, onde
estou?, na Síria? Não sei, é assustador. Isto existe. Está entre
nós.
Mónica
2 comentários:
Curioso como a leitura do painel das caixas pode tanto dizer das vidas do prédio. Esta foto foi muito inspiradora.
é verdade Licinia, foi isso q pensei, mas aparentemente só dá para imaginar coisas tristes
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