quinta-feira, maio 17, 2018

8. Mónica

Por razões profissionais tive que entrar num prédio que me partiu o coração logo à entrada ao olhar para as caixas do correio: uma de cada cor, presas por arames improvisados, remendadas, com a identificação escrita à mão, nunca tinha visto nada assim. Como é que se estraga uma caixa de correio? E tantas estragadas? Terá havido algum mau fígado, vingança, bebedeira, partida juvenil, briga a provocar o estrago geral e depois cada um reparou como pôde? O resto do prédio combinava com o cartão-de-visita, o tecto da caixa de escadas estava danificado em vários pontos, eufemismo para “inexistente”, e era visível a telha e a estrutura de madeira de apoio da telha, algumas torneiras de segurança da água tinham a tampa violada, as paredes escavacadas, a sujidade confundia-se com os materiais. A casa onde entrei, a razão profissional de entrar no prédio, tinha uma parede negra de fungos de humidade, infiltrações da chuva, tudo isso acumulado ou mais alguma coisa. O que importa, é tarde demais. A degradação instalou-se. Mas o que é isto?, onde estou?, na Síria? Não sei, é assustador. Isto existe. Está entre nós.
Mónica

2 comentários:

Licínia Quitério disse...

Curioso como a leitura do painel das caixas pode tanto dizer das vidas do prédio. Esta foto foi muito inspiradora.

Mónica disse...

é verdade Licinia, foi isso q pensei, mas aparentemente só dá para imaginar coisas tristes