quinta-feira, março 14, 2019

6. M.



Parece que o mundo, o meu mundo, se estreita quando o espreito através da frincha de uma porta. E afinal parte desse mundo que vejo nem sequer é todo meu, chegou à minha vida através da família, com histórias de avós e tios que não conheci porque morreram cedo e perpetuaram memórias de vivências e vicissitudes lembradas com emoção pela minha mãe. O móvel que daqui se vislumbra, comprado pelo meu tio Armel, para quem a música era companhia diária, tem um gira discos na parte superior protegido por uma tampa que, ao abrir e fechar, desliza suavemente em calha robusta, mantendo-a fixa enquanto os discos antigos de vinil His Master´s Voice giravam no prato. Na parte debaixo, dentro da divisória com portas, estava guardada a colecção de óperas que me lembro de ouvir em casa dos meus pais. E comoviam- -me em particular determinadas faixas de Os Pescadores de Pérolas, Madame Butterfly e Os Palhaços, não só pelo tema e pela música mas também porque sabia que elas eram especiais para a minha mãe. 
M

3 comentários:

Justine disse...

Os objectos como âncoras, a música como asas!

Anónimo disse...

Espreitando a ternura de um passado, basta o olhar. O lembrar.

(são algumas preferências minhas, também, estão aqui ao lado nos fav. O prazer da Música é eterno!)
bettips

Mónica disse...

pensei que ías fazer uma ode à dobradiça, eheheh