Pelos episódios narrados no Novo Testamento sobre Pedro, sou levada a apreciar a personalidade deste homem. Um pescador conhecedor da sua arte, frontal, emotivo, entusiasta, generoso, medroso também, capaz de assumir os seus erros e chorar por causa deles (três vezes negou, quando interrogado, a sua ligação com Jesus), crente e ao mesmo tempo incrédulo. Para exemplificar o que digo, transcrevo parte do significativo episódio narrado por Mateus: «(…) Depois, Jesus, obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem (…) A barca ia já no meio do mar, açoitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se, dizendo: «É um fantasma!» E gritaram. No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos, sou Eu; não temais». Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». «Vem, disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo da barca, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e, começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» (…)» E mais exemplos poderia aqui acrescentar. (*)
Num outro registo, porque os
temas bíblicos me merecem esclarecimento histórico adicional, lembro Emmanuel
Carrère no seu interessantíssimo livro O Reino em cuja badana o autor
diz: «A certa altura da minha vida fui cristão. Durou três anos. Depois acabou.
Assunto encerrado, portanto? Não inteiramente, uma vez que vinte anos depois
senti necessidade de regressar ao tema. E os caminhos do Novo Testamento que em
tempos percorri como crente, percorro-os hoje de novo – como romancista? como
historiador? Como inquiridor, digamos.» (**)
(*) In Bíblia Sagrada, Versão dos textos originais, 8ª edição, 1978, Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos)
(**) In O Reino, Emmanuel
Carrère, Abril 2021, Edições tinta-da-china, Lda.
M
5 comentários:
Gostei destas histórias sobre os Santos, claras para que não se perca o homem que celebra. Achei piada ao dito do escritor, também quis ser "crente" por pressão fora de casa, felizmente veio o 25 de abril e libertei-me de um fardo de coisas que não entendia e ninguém me esclarecia
Afinal S.Pedro era muito semelhante à maioria de todos nós: audacioso mas medroso
Luisa
E não é que essa foto parece mesmo da barca de Pedro que se imagina!
A minha intenção foi mesmo essa, Licínia. Também eu imaginei assim a barca de Pedro. E completamente livre de tudo para que melhor se ligasse o texto à cena imaginada.
Bonita fotografia, mas não imagino assim a barca de S. Pedro. Esta é muito moderna. Gostei do texto
Teresa
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