quinta-feira, dezembro 05, 2024

5. M

Pormenor do quadro La Primavera, de Botticelli. Retirado da internet.

 

Outono / Primavera

Duas estações do ano de que gosto muito. Pela beleza e pelo contraste entre ambas. Numa, a luminosidade, a vivacidade das cores, na outra, a luz pensativa, a aceitação serena dos limites sazonais nos tons e nas perdas. Cada uma delas dando lugar a outra que se lhe segue. Para de novo voltar ao início do ciclo no seu tempo de vida. Assim a Natureza. E os seres humanos? À semelhança das estações do ano, as etapas das várias idades desde o nascimento tomam conta da nossa existência. Mas seguem-se umas às outras sem retorno possível, apenas deixam traços da sua presença no nosso corpo e na nossa memória. Nas pessoas que fazem ou fizeram parte do caminho, nos objectos, nas fotografias que tirámos ou nos tiraram, nos livros que lemos, nos filmes que vimos, nas músicas que ouvimos, nos lugares que conhecemos ou sonhámos visitar, nos espelhos onde nos perscrutamos. E tanta coisa fica por concretizar, sentir, compreender! Perante a realidade da finitude, sermos capazes de nos renovarmos interiormente será talvez um escape redentor.

M

10 comentários:

Mónica disse...

Que beleza de texto e o fim perfeito. Oxalá consigamos atingir esse estado de renovar interiormente como um escape redentor. M., muito nice!

Anónimo disse...

Belo texto
Luisa

Anónimo disse...

E sim, a primavera de Boticelli dá-nos a esperança que tudo voltará ao ponto de partida
Luisa

bettips disse...

Às vezes ponho-me a pensar no hemisfério Sul, onde as estações são ao contrário! Um texto profundo, desfiando as diferenças da Natureza e vicissitudes do ser/corpo humano. A (provável) redimensão dos objectivos é uma arte de todos os dias. A pintura que reproduzes, alegra-me, suavemente.

Mónica disse...

Pois é, Bettips, nas partes do hemisfério sul que conheci não havia primavera e outono. No verão chove e no inverno há cacimbo (ou cacimba)

Margarida disse...

Adoro o quadro

Anónimo disse...

Um texto muito profundo. Gosto muito da fotografia da folha perdida.
Teresa

Mónica disse...

A folha dourada no meio do verde parece a cara da rapariga envolta nas verduras. não sei explicar. a fotografia da folha é como se fosse a imagem minimalista do quadro da Primavera

Justine disse...

Um texto que te desenha: profundo, belo, colocando dúvidas. Apetece ler de novo...

mena maya disse...

Esta tua faculdade de pegares em palavras e fazeres um belo ramalhete, fascina-me.