quinta-feira, julho 10, 2014

8. Rocha/Desenhamento



Azáfama à beira-mar é coisa bem marcada na memória histórica e visual da nossa terra, ao longo da costa, fronteira portuguesa que só dialoga com o oceano e que faz de nós o perfil em forma de rosto de um continente cada vez mais sombrio. Chamam-nos periféricos mas a palavra cai na espuma dos dias. Somos, pelo contrário, um território central do mapa entre continentes e o sol ainda nos separa dos países nórdicos, ricos, que parecem desdenhar da nossa pequenez e grandeza no tempo da conquista dos mares. Nada disso se pode resumir a tão pouco. Tão pouco como o teor desta imagem gigantesca. São barcos que entram e saem do mar, em pleno sol, em azáfamas de dois ou três homens apenas: a praia, a barca, o trator, o tirante de arrasto, tudo em movimento, entre paragens e recomeços. Daqui vem o alimento e a imagem de um trabalho milenar. 
Rocha de Sousa

3 comentários:

Luisa disse...

Até esta azáfama nos querem tirar!

Justine disse...

Bela a foto, belo o texto para referir uma tarefa dura mas também muito bela!

bettips disse...

Sempre me admirei de nos chamarem "periféricos" porque realmente estamos no meio dos mundos e nas portas do mar, com um perfil austero mas tão/muito diversificado. Uma boa aproximação ao tema, tanto nas palavras de arco país/povo/vida como na foto (substituindo as mãos dos pescadores, os bois que puxavam as redes, pela maquinaria que nos vai "substituindo" também).