Ao
olhar para esta fotografia, o que me salta de imediato à vista são
os olhos espantados daquilo que me parece ser um avião de entreter
meninos a quem tentaram dar um aspecto humanizado. Coitado, preso à
parede por um fio eléctrico, contrasta com a sua própria natureza
de voos livremente desejados.
Não
aprecio estas máquinas. Acho-as enganadoras. E sempre que vejo
crianças empoleiradas em cima delas (por vezes depois de uma luta
terrível com os pais ou avós babados para conseguirem o que
julgavam valer a birra), balançando para a frente e para trás sobre
o ruído rouco de um motor que se desejaria real, fico a cogitar que
pensarão elas na verdade. Divertimento limitado. Fantasias de
adultos de telemóvel da última geração a postos para as selfies
narcisistas da praxe com laivos de ternura à mistura. Questões de
formatação, ou não vivêssemos nós numa época de formatações
de tudo e mais alguma coisa.
Todo
aquele ambiente dos centros comerciais é ligeiro, artificial,
materialista, consumista, cansativo, esvaziado de silêncio. Não
seria muito mais saudável as crianças passearem ao ar livre,
correrem, apreciarem as cores que a Natureza lhes oferece, descobrir
aviões a brincar às escondidas entre nuvens verdadeiras no céu e
imaginarem-se dentro deles?
Estas
máquinas que só se movem com euros e tempos marcados pelo negócio
não me atraem. Para imaginar não é preciso gastar nem um cêntimo.
M
2 comentários:
Sim!!!
Mas dá trabalho aos acompanhantes e é mais fácil gastar 1€ que passear e falar com meninos.
Muito adequada, a tua reflexão! A foto pretende ser, em última análise, um retrato da sociedade fria e consumista em que vivemos...
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