quinta-feira, abril 21, 2016

7. M.

Ao olhar para esta fotografia, o que me salta de imediato à vista são os olhos espantados daquilo que me parece ser um avião de entreter meninos a quem tentaram dar um aspecto humanizado. Coitado, preso à parede por um fio eléctrico, contrasta com a sua própria natureza de voos livremente desejados.
Não aprecio estas máquinas. Acho-as enganadoras. E sempre que vejo crianças empoleiradas em cima delas (por vezes depois de uma luta terrível com os pais ou avós babados para conseguirem o que julgavam valer a birra), balançando para a frente e para trás sobre o ruído rouco de um motor que se desejaria real, fico a cogitar que pensarão elas na verdade. Divertimento limitado. Fantasias de adultos de telemóvel da última geração a postos para as selfies narcisistas da praxe com laivos de ternura à mistura. Questões de formatação, ou não vivêssemos nós numa época de formatações de tudo e mais alguma coisa.
Todo aquele ambiente dos centros comerciais é ligeiro, artificial, materialista, consumista, cansativo, esvaziado de silêncio. Não seria muito mais saudável as crianças passearem ao ar livre, correrem, apreciarem as cores que a Natureza lhes oferece, descobrir aviões a brincar às escondidas entre nuvens verdadeiras no céu e imaginarem-se dentro deles?
Estas máquinas que só se movem com euros e tempos marcados pelo negócio não me atraem. Para imaginar não é preciso gastar nem um cêntimo.
M

2 comentários:

bettips disse...

Sim!!!
Mas dá trabalho aos acompanhantes e é mais fácil gastar 1€ que passear e falar com meninos.

Justine disse...

Muito adequada, a tua reflexão! A foto pretende ser, em última análise, um retrato da sociedade fria e consumista em que vivemos...