Proposta
de Licínia
Dia
31
Fotografando
as palavras de outros sobre
«A
voz das cigarras enlouqueceria qualquer um, eram elas as donas da
ilha e faziam questão de demonstrar o seu poder. Tantas as
linguagens que Omid conhecia e aí estava uma a que nunca prestara
atenção, a dos habitantes sub-reptícios do terreno. As línguas à
sua volta já começavam a ser familiares. Na Turquia convivera com
todos, contando as horas uma a uma, no pavor de ser preso. Como
todos, negociara a travessia, esperara noites e noites, acachapado
entre as sombras escusas de uma margem errada. Como todos, trocara
moedas por pedaços de pão e tâmaras, também por documentos. Até
as entoações, os sotaques, começava a distinguir, nos farrapos de
conversas, nos modos usados para acalmar as crianças que puxavam
insistentemente as saias das mães, fartas de atravessar caminhos que
as picavam, fartas de acreditar que o sonho mau estava a passar e que
a boa sorte as surpreenderia mesmo mesmo ao virar da esquina, ao
virar do barco.»
2 comentários:
De um medo e aridez punjentes no texto, não era fácil encontrar imagens "nossas" que se adaptassem a esta descrição. Imagens "de outros" têmo-las nós muitas, nas notícias, na imprensa. Aspectos da fuga terrível de quem procura fugir da guerra e de quem, entre os senhores mandantes, apenas anseia por viver em PAZ. A casa, a família, os vizinhos, a vida comum.
Ninguém diz que o nosso PPP é um desafio de facilidades, antes o é de imaginação, de critérios, de cultura, de prioridades que cada um tem. Com uma pitada de humor que quantas vezes nos é dado e ameniza "os espinhos": Agrades, com o seu propósito de nos fazer sorrir, nestas margens por onde nos movemos. Parabéns pela oportunidade da imagem, A.!
Abçs a todos
bettips
É um livro admirável de uma pessoa admirável que foi "viver" um verão numa ilha grega com os refugiados que chegavam, chegavam e continuam a chegar.
Talvez eu seja suspeita, mas aconselho vivamente esta leitura.
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