quinta-feira, fevereiro 02, 2023

6. M


Em criança gostava de atirar serpentinas janela fora, prendê-las no parapeito da varanda e vê-las a esvoaçar. Nesse tempo e na rua em que eu morava muita gente assim se divertia a enfeitar as suas janelas. Ficava bonito. Havia também os chamados “estalinhos” lançados de surpresa para assustar os distraídos, mais os papelinhos coloridos que caíam como magia sobre nós. Os disfarces com roupas dos adultos, fatos feitos de papel frisado e as máscaras de papelão faziam também parte da brincadeira de adivinhar quem era quem. Cresceu o gosto comigo e com outros apreciadores destas festas caseiras que passaram a ser mais criativas e requintadas, havendo sempre uma senha e contrassenha para a entrada. Era sempre escolhido um provérbio, o mais provocador, diga-se. A última festa carnavalesca aconteceu precisamente em fevereiro de há 30 anos. Reunimos amigos, filhos e amigos dos filhos. À entrada, cada pessoa, depois de apresentar um papel com a contrassenha a quem lhe abrisse a porta, recebia um número para pendurar ao pescoço e pousava na cozinha a comida que trazia como contribuição para a ceia. Sempre em silêncio, eram depois dirigidos para a sala pelo “porteiro”. Lá, estava uma máquina de filmar a gravar as imagens e música a tocar. Alguns mascarados passeavam pela sala, outros sentavam-se e tentavam descobrir quem era o outro a seu lado e havia quem falasse por gestos à procura de respostas. Para despistar eventuais convidados que tivessem chegado primeiro e estivessem à coca por trás das janelas, as famílias não se apresentavam juntas e estacionavam os automóveis longe. Completo o grupo de convidados, dava-se início à votação para a escolha da melhor máscara. O vencedor ganhava um prémio que evidentemente era um objecto qualquer disparatado, e que estava escondido num sítio de acesso difícil, alcançável através de indicações tipo jogo de pista. Só depois disso cada pessoa tirava a máscara da cara, um alívio para quem há muito queria respirar livremente e desejava confirmar se tinha ou não adivinhado quem era quem. Foram tempos divertidos, com disfarces requintadíssimos.

M

7 comentários:

Mónica disse...

Havias de ser mãe da minha filha :))) que casal exuberante, onde raio foram desencantar as vestes, um misto de sino-venezianos, herdeiros de marco polo. Tem piada todo o jogo e brincadeira de carnaval

mena maya disse...

Muito criativa a vossa maneira de festejar o carnaval! Festejavam no domingo? O provérbio é o máximo!

M. disse...

Os foliões da fotografia são o meu irmão e a minha cunhada.
Houve anos em que festejámos o domingo magro, o domingo gordo, e a 3ª feira de Carnaval. Cada festa em sua casa e sempre com disfarces diferentes.

mena maya disse...

Uau!!! Foliões à séria!!! Ficaram decerto muitas boas recordações.

bettips disse...

Uma maravilha, os disfarces e as formas de festejar. Comemorações diferentes que ficaram na memória, certamente.

Justine disse...

Isso sim, eram carnavais a sério, privados, caseiros, carnavais familiares, com muito mais atrativos e encantos que os carnavais públicos . Gostei muito da tua descrição viva, divertida, mostrando que tens boas recordações desses tempos

Anónimo disse...

Um Carnaval bem divertido e requintado. Os meus não chegavam a tanto.
Luisa