quinta-feira, abril 27, 2023

4. Licínia


 

Era de noite e chovia

a água tamborilava

ao sabor da ventania

alguém na rua passava

e uma luz se acendia

onde uma mulher chorava

enquanto a chuva caía

porque o homem que passava

não parava não a queria

e enquanto o vento cantava

era a mulher que se ouvia

já fui dona já fui escrava

já fui noite já fui dia

fui soldo com que comprava

o linho com que tecia

o enredo que enredava

o lençol em que dormia

o passageiro que passava

e na minha casa entrava

e o meu corpo prendia

enquanto o vento soprava

enquanto a chuva caía

 

Licínia

6 comentários:

Margarida disse...

Gosto da foto e gosto do texto. Para não variar!

bettips disse...

Beleza!!! Parece uma "cantiga de amigo". Já agora que descobriram o D. Dinis...

M. disse...

Uma fotografia muito bela a acompanhar um texto que toca fundo dentro de nós.

Anónimo disse...

Um bonito texto rimado (como gosto) e uma lindíssima fotografia

Teresa

Anónimo disse...

Lindas a poesia e a foto
Luisa

Justine disse...

Poema pleno de ritmo, fotografia que "sabe" acompanhar os tons do poema...