segunda-feira, dezembro 04, 2006

Excertos de um livro muito interessante que estou a ler

«Qualquer esperança de que a fuga pudesse ser evitada desvaneceu-se na manhã de 27 de Novembro, quando o próprio D. João chegou às docas, acompanhado pelo Infante espanhol, Pedro Carlos, um favorito do príncipe regente que foi criado na corte portuguesa.»

«Podemos nunca vir a saber ao certo quantas pessoas conseguiram embarcar na frota, mas parece que cerca de dez mil saíram de Portugal para o Brasil, na primeira vaga − um número impressionante se tivermos em conta que a população de Lisboa naquela época não ultrapassava as 200 mil almas. A um vasto séquito de cortesãos − cirurgiões reais, confessores, damas de honor, guarda-roupas do rei, cozinheiros e pajens − juntava-se a melhor sociedade lisboeta − conselheiros militares, sacerdotes juízes e advogados, juntamente com os seus familiares.»

«Nas ruas, a corte era forçada a improvisar, reduzindo a ostentação que acompanhava as suas saídas em Lisboa…»

«Luccock descrevia uma corte deprimida, lutando por manter as aparências. A Rainha D. Maria, embora talvez inconsciente do declínio dos padrões, dava a volta à cidade em algo que ficava muito aquém dos mínimos esperados da realeza: “O melhor veículo que a rica colónia do Brasil conseguia conceder à sua soberana era um pequeno cabriolé”, escreve ele, “trazido no mesmo navio em que (a rainha D. Maria) chegou. Era puxado por duas mulas vulgares e conduzido por um criado vestido com uma libré velha e desbotada, senão esfarrapada.»

«O Rio de Janeiro era um porto colonial muito movimentado mas rude. As liteiras reais partilhavam as ruas estreitas com vendedores ambulantes que percorriam o centro, anunciando as suas mercadorias com pregões roucos e cadenciados. Os cortesãos chocavam com cirurgiões de baixo nível que sangravam pacientes na berma das ruas.»

Império à deriva (A corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821), Patrick Wilcken
Civilização Editora

M

6 comentários:

Anónimo disse...

boa leitura :)
verá que as coisas não são assim tão diferentes, apesar de já terem passado cerca de 200 anos;

beijo

M. disse...

Pois que nele encontro muitas semelhanças com o que agora se passa... Aqui e noutros países. Muito interessante este livro.

Antonio stein disse...

Em tudo Igual, mas, mas..,
só com uma pequena, mas dramática diferença,

As MULAS estão no Poder há uns anos!

Art&Tal disse...

ainda delicioso

bettips disse...

Pelos vistos já é costume virarem as costas...e irem para o Brasil ou Bruxelas. Nada que nos espante, os simples portugueses que ficam. E a História não é mais que uma lição de atitudes. Em Portugal, demasiado comuns! Abç

Maria Manuel disse...

A nossa realeza foi sempre um tanto pelintra, basta ver, por comparação com outras cortes europeias, a pobreza do património arquitectónico da casa real portuguesa. É só por essa pobreza de legado que lamento o facto, porque de resto prefiro que tenha sido assim: quanto menos fausto e desperdício, melhor!

Mas no que respeita à partida de D. João VI para o Brasil, tive a oportunidade de ler há pouco tempo num livro também bastante interessante - Aqui não passaram! - O erro fatal de Napoleão, de Carlos de Azeredo -, um ponto de vista bem diferente do habitual. Segundo o autor, contrariamente ao que se possa pensar, a partida da família real constituiu uma pedra no sapato dos invasores franceses, que assim não puderam fazer em Portugal o que fizeram, por exemplo, em Espanha: depor o rei e substitui-lo por um familiar do Imperador.
É claro que, posteriormente, as consequências deste abandono foram devastadoras...