domingo, dezembro 31, 2006

No último dia de 2006

















XLIX

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

Poesia, Alberto Caeiro, edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, Assírio & Alvim, Obras de Fernando Pessoa



Foto de M

6 comentários:

Maria P. disse...

Um Feliz ano!

Boa amiga:)

Beijinho de Maio, sempre...

Anónimo disse...

Vim espreitar a correr o teu canto. O vosso. O imaginário de vós. O olhar de vós. A corrente. A paz. Bem hajam. Beijinhos.

Flor de Tília disse...

Que o Novo Ano te traga tudo quanto desejas. Feliz Ano Novo.
Beijinhos

Anónimo disse...

Linda fotografia com um texto fantástico! Subscrevo o texto e desejo a todos os meus parceiros do Fotodicionário um Ano Novo muito Feliz!

Teresa David disse...

Um recanto que deixa de ser sombrio com a cor de fogo que espreita através da janela. Quanto ao texto é Pessoa e basta!
Bjs
TD

Maria Manuel disse...

Também gosto muito das palavras simples de Caeiro que dizem muito...!

De regresso das festas, renovo desejos de BOM ANO!