E pôs-se ao caminho.
Recebera a notícia no dia anterior, escondia-se então o sol para lá da serrania, mas não ousara enfrentar a noite pois conhecia os seus azedumes ventosos no início da primavera. Preferiu esperar pela manhã, que sabia habitualmente mais amena por aquelas paragens.
Levantou-se cedo, abriu as portadas do quarto para perscrutar os campos em redor da casa e preparou-se para sair. Vestiu a roupa deixada de véspera sobre a cadeira à beira da cama, calçou os sapatos com sola de borracha grossa e fechou-se na casa de banho. Não se demorou. Apareceu daí a minutos na cozinha com o cabelo bem penteado preso no alto da cabeça com o seu gancho predileto, olhou para mim e sussurrou-me um Bom dia. De pé, mastigou à pressa o naco de pão de centeio que lhe ofereci para acompanhar o café quente bebido de um trago, o pensamento longe na distância da paisagem invisível. Em seguida pousou a caneca em cima da mesa de madeira escurecida pelos anos e enfiou o pesado capote de lã serrana. Abraçou-me então demoradamente e saiu de casa encostando a porta sem fazer ruído.
Fiquei a vê-la por detrás das vidraças. Reparei que estremeceu um pouco ao sentir no corpo a friagem matinal enquanto, com mão firme, aconchegava o cabeção do casaco ao pescoço para se proteger dos farrapos de neve que teimavam em descer sobre os seus ombros.
Não olhou para trás, não voltei a ver-lhe o rosto, mas adivinhei nele a determinação de sempre.
Recebera a notícia no dia anterior, escondia-se então o sol para lá da serrania, mas não ousara enfrentar a noite pois conhecia os seus azedumes ventosos no início da primavera. Preferiu esperar pela manhã, que sabia habitualmente mais amena por aquelas paragens.
Levantou-se cedo, abriu as portadas do quarto para perscrutar os campos em redor da casa e preparou-se para sair. Vestiu a roupa deixada de véspera sobre a cadeira à beira da cama, calçou os sapatos com sola de borracha grossa e fechou-se na casa de banho. Não se demorou. Apareceu daí a minutos na cozinha com o cabelo bem penteado preso no alto da cabeça com o seu gancho predileto, olhou para mim e sussurrou-me um Bom dia. De pé, mastigou à pressa o naco de pão de centeio que lhe ofereci para acompanhar o café quente bebido de um trago, o pensamento longe na distância da paisagem invisível. Em seguida pousou a caneca em cima da mesa de madeira escurecida pelos anos e enfiou o pesado capote de lã serrana. Abraçou-me então demoradamente e saiu de casa encostando a porta sem fazer ruído.
Fiquei a vê-la por detrás das vidraças. Reparei que estremeceu um pouco ao sentir no corpo a friagem matinal enquanto, com mão firme, aconchegava o cabeção do casaco ao pescoço para se proteger dos farrapos de neve que teimavam em descer sobre os seus ombros.
Não olhou para trás, não voltei a ver-lhe o rosto, mas adivinhei nele a determinação de sempre.
M
2 comentários:
Vi english book and look (das Brönte ou outras personagens do assombro)na tua tradução mental.
A ideia acima (minha)é rápida e de origem, o que digo a seguir é intelectualidade wiki que encontrei por acaso ao ir verificar as irmãs B. e que con-diz com o que dizes:
"Sleep not, dream not; this bright day
Will not, cannot last for aye;
Bliss like thine is bought by years
Dark with torment and tears"
(de "Sleep not", 1846)
Bjs
Bettips:
Sem dúvida lembras bem as irmãs Bronte. O que tu me fazes agora recordar! Estive em Haworth há vários anos. Desviei caminho para ir até lá. De propósito. Uma estrada muito estreita onde só cabia um carro e aquela paisagem diante de mim. E eu exultando. Quando entrei em Haworth veio-me à ideia a nossa Beira. Visitei a casa de Charlotte e da família, senti-a ali, comprei o livro que conta um pouco a vida desta família talentosa. Nunca mais voltarei. Fica a memória, um misto de tudo dentro dela, "The World Within". Belo este título, tão belo!
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