A
porta, ainda viva e tratada, encerra uma casa antiga e modesta, pode
estar a dizer-nos que alguém a fechou e
saíu ou que a fechou depois de entrar. Alguém viverá isoladamente
nesta pequena casa, lugar que nos deixa uma ideia de solidão, de
interioridade, vida mais encoberta do que descoberta? Ou silêncio e
vazio. Olhar e ver o real é um trajecto conceptual enganador. Um
dia, fotografando casas arruinadas de uma aldeia do Algarve serrano,
registei muitas portas fechadas, secas, rodeadas de um silêncio de
assombro. Num caso, a porta ainda lembrava o seu vai-vem, entradas e
saídas. Apetecia abrir a porta, espreitar, chamar por alguém. A
porta cedeu facilmente, madeira rangendo por si e no chão. «Está
alguém aí?»
Ninguém respondeu. Poeirenta e sombria por dentro, nunca ninguém mais responderia ao chamamento. Nem os ratos no rumor das suas furtivas corridas.
A imagem que vemos parece revelar a conservação da porta e a habitabilidade do seu interior, num contexto antigo e poético.
Olhar, ver, compreender. A percepção visual, por vezes, muitas vezes, parece revelar-nos uma coisa que não passa, afinal, do seu contrário.
Ninguém respondeu. Poeirenta e sombria por dentro, nunca ninguém mais responderia ao chamamento. Nem os ratos no rumor das suas furtivas corridas.
A imagem que vemos parece revelar a conservação da porta e a habitabilidade do seu interior, num contexto antigo e poético.
Olhar, ver, compreender. A percepção visual, por vezes, muitas vezes, parece revelar-nos uma coisa que não passa, afinal, do seu contrário.
Rocha de Sousa
1 comentário:
Gostei desta (des)focagem de olhar.
Enviar um comentário