À vista do barco, enxuguei as lágrimas.
Lembrei-me da Woolf, da Pizarnik, da coragem grande e elementar, lembrei-me também de mim - que embora não tivesse horas, Philip Glass soava dentro de mim como soava o movimento místico e húmido da ondulação baixinha, baixa... medi, somei, subtraí, medi-me: 1,63 de corpo, 52 kilos mal pesados, etc, etc, as gramas do desconhecido.
Entrei e sentei-me e vi como havia apenas que esperar.
Continuei um choro mole como um corpo de bebé antes de adormecer, um choro que era uma canção de embalar - a presença da vida e da morte eram iguais nesse vagabundear soluçado do fundo do peito. Pensei: não há nenhum motivo.
E porém, logo vi que sim, que por fora do pensamento ali se apresentavam os motivos muito claros com seus olhos muito abertos, seus sinais: sem nenhuma convocação, salvo a do silêncio, ali se perfilavam, prontos a falar.
~pi
5 comentários:
Um texto comovente, Pi! Belo, poético e comovente!
Bonito texto onde se fala do embalar e da ondulação.
Interessante a ligação da água com as vidas destas escritoras no seu desesepero terminado em suicídio.
A tentação das águas onde tudo começa e acaba. Belo texto.
No ventre das águas...muito bonito, a criança a (re)nascer. Água primordial, ligeiramente salgada como as lágrimas.
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