Parou de remar. Sentia-se cansado, aquele frio interior dos últimos dias a consumir-lhe os ossos e a alma. Encostou os remos à amurada da embarcação e deitou-se de costas sobre um dos assentos de madeira carcomida, almofadado o corpo dentro do forro quente do blusão. Claro que não tencionava deixar-se adormecer, não podia correr o risco de ser arrastado para longe pela ondulação, o que tornaria mais penoso o regresso à praia. Não me demoro, prometera. Apenas queria olhar o céu e voltar a imaginar as nuvens a rir muito lá no alto, fugindo do sopro do vento. Como se o barco fosse o seu berço de menino embalado pelas estórias de sua mãe.
M
5 comentários:
De como uma fotografia muito bela pode dar asas à imaginação e originar um texto encantador! A beleza atrai beleza, está provado:))
Os barcos são a vida dos marinheiros.
O desejo de regresso, ao colo, à mãe, às águas. Muito bonito.
Belo se acreditamos no "não me demoro" e pode ser a resto da vida. Muito belo, este interior de água e mágoa.
O teu texto fez-me lembrar o Velho e o Mar. Nem sei porquê. Talvez pelo amor ao barco, ao mar.
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