quinta-feira, maio 16, 2013

8. M.

Parou de remar. Sentia-se cansado, aquele frio interior dos últimos dias a consumir-lhe os ossos e a alma. Encostou os remos à amurada da embarcação e deitou-se de costas sobre um dos assentos de madeira carcomida, almofadado o corpo dentro do forro quente do blusão. Claro que não tencionava deixar-se adormecer, não podia correr o risco de ser arrastado para longe pela ondulação, o que tornaria mais penoso o regresso à praia. Não me demoro, prometera. Apenas queria olhar o céu e voltar a imaginar as nuvens a rir muito lá no alto, fugindo do sopro do vento. Como se o barco fosse o seu berço de menino embalado pelas estórias de sua mãe. 

M

5 comentários:

Justine disse...

De como uma fotografia muito bela pode dar asas à imaginação e originar um texto encantador! A beleza atrai beleza, está provado:))

Benó disse...

Os barcos são a vida dos marinheiros.

Licínia Quitério disse...

O desejo de regresso, ao colo, à mãe, às águas. Muito bonito.

bettips disse...

Belo se acreditamos no "não me demoro" e pode ser a resto da vida. Muito belo, este interior de água e mágoa.

Luisa disse...

O teu texto fez-me lembrar o Velho e o Mar. Nem sei porquê. Talvez pelo amor ao barco, ao mar.