Olhar é um desafio, é um exercício de descoberta e decifração. A fotografia que nos é dada a ver pode parecer o que não é, tratando-se de um belo jogo de simetrias e claro escuro, quase simulando alguma instalação capaz de convocar o nosso imaginário para domínios da ficção científica, por exemplo. E contudo trata-se de um registo muito mais prosaico. O fotógrafo encenou a simetria e apertou o enquadramento: o que vemos é a parede de um barco, lado interior, num belo contraluz, o rebordo superior denunciando as áreas de
trabalho dos remos e um espigão de ferro para amarração dos mesmos, vendo-se em perspectiva dois bancos atravessados, nos quais se pode gerir todo o acto da impulsão através dos remos. Remos que, neste caso, estão encostados obliqua e simetricamente, com as pás para cima e para fora, à borda da embarcação. Ao longe, rente ao perfil da amurada do barco em madeira, vemos o horizonte marítimo e por cima um céu de nuvens brandas e contínuas, tarde ou cedo demais.
Rocha de Sousa
5 comentários:
Um texto surpreendente na descrição minuciosa e objectiva da foto. Diria um guião para uma peça de teatro ou para uma cena de filme! Gostei muito
Foto descrita ao pormenor. Poderíamos fechar os olhos e vê-la tal como ela é.
Descrever ajuda a ver melhor.
Um olhar técnico sobre a foto.
(em princípio) não gosto de descrições de pormenor quando tenho vontade de deambular pelos imaginários... Mas "o registo" é meu e não tira gabarito ao pormenor de olho-mestre (???)
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