quinta-feira, junho 27, 2013

O DESAFIO DE HOJE

Dia 27 - Fotografando as palavras de outros sobre este excerto do início de um livro muito interessante (apesar de a tradução não me agradar):

«Na pequena pensão da Riviera, onde vivi antes da guerra, há uns dez anos, rebentou uma acesa discussão à nossa mesa, ameaçando degenerar inesperadamente numa altercação carregada de raiva, ódio e insultos até. A imaginação da maior parte das pessoas é tosca, aquilo que não as atinge directamente, que, qual espigão aguçado, não as toca profundamente, mal pode deixá-las impressionadas. Mas se alguma coisa acontece, mesmo ali à sua frente, por mais insignificante que seja, desde que ao alcance do seu sentir imediato, deixam uma paixão desmesurada tomar logo posse de si. Em certa medida, substituem o escasso interesse por uma impetuosidade despropositada.
Também desta vez aconteceu assim com a nossa tertúlia exclusivamente oriunda de uma burguesia que cultivava as mais das vezes o small talk e o entretém superficial e breve e que frequentemente se desfazia logo, mal a mesa era levantada: o casal de alemães em excursão e fotógrafo-amador, o dinamarquês anafado e apreciador das pescarias enfadonhas, a distinta senhora inglesa com os seus livros, o casal de italianos em escapadela para Monte Carlo e eu, preguiçando numa cadeira de jardim ou trabalhando. Contudo, desta vez, insurgimo-nos todos uns contra os outros, por causa de azeda discussão; e quando um de nós se levantou inusitadamente, não foi por estar educadamente a despedir-se, como sempre acontecia, mas porque a exasperação a quente assumiu, exactamente como acabo de relatar, forma de fúria.»

Vinte e quatro horas na vida de uma mulher, Stefan Zweig, Editora A Esfera dos Livros, 2008

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