Dia
15 -
Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia
da Mena.
quinta-feira, abril 24, 2014
AGENDA PARA MAIO DE 2014
Dia
1 - Ao
jeito de cartilha: Proponho-vos
que usemos a sílaba “Mon”
para formar as nossas palavras. O
texto que alguns de nós acrescentarmos é facultativo.
Dia
8 - Reticências
com
a frase “Será
talvez”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
Dia
15 -
Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia
da Mena.
Dia
22 - Jornal
de Parede
Dia
29 - Fotografando
as palavras de outros sobre
um excerto do livro Sinais
de Fogo:
«No
Bairro Novo, que atravessei, havia uma quietude matutina. Nas mesas
dos cafés só uns raros sujeitos gozavam da sombra ante uma cerveja.
Eram, como de costume, pais de família, que se recusavam a encher de
areia os sapatos na praia. Raramente pais tomavam banho, como aliás
as mães ou as tias. Nem mesmo eram olhados com bons olhos, pela
opinião das barracas, aqueles ou aquelas, raros, que o faziam. A
nudez exposta era coisa reservada à gente solteira ou muito jovem:
por extensão era tolerada ainda nos pares recém-casados. Ou então
era uma manifestação de inferioridade social, própria da gente dos
toldos (que, no entanto, muito empertigados nos seus banquinhos,
imitavam em tudo a das barracas) ou da saloiada do campo, que, ao
domingo, com grandes cestas de farnéis, que escandalizavam as
senhoras, invadiam a praia, para se banharem em grandes correrias e
gritos, atirando água e areia aos corpos desajeitados em que antigos
e bamboleantes fatos de banho eram resguardados por cuecas e por
camisas femininas que se colavam à carne. Por isso, ao domingo, de
manhã ou à tarde, as barracas ficavam vazias. E as famílias
passeavam na muralha, sem descer à praia, ou juntavam-se aos pais
nas mesas dos cafés. Aos dias de semana, ao fim da tarde, os maridos
costumavam aparecer, pelo menos alguns deles, avançando com grande
cuidado pelas pranchas de madeira, que levavam às barracas. E as
crianças deles tinham mesmo por missão especial e vespertina o
ajeitar das pranchas e o limpá-las da areia que jogos e correrias
houvessem acumulado nelas. Os senhores, de casaco e gravata,
abanando-se com os chapéus de palha, sentavam-se na frente das
barracas, entre as senhoras dos seus séquitos, e cumprimentavam-se
de umas barracas para as outras, como se mal se conhecessem uns aos
outros, das mesas dos cafés, e do casino para cujo bar, à noite,
todos mais ou menos se esgueiravam. E ficavam olhando o mar e a beira
de água onde, às vezes, uns pares de namorados se passeavam de mão
dada, recortados pelo sol-poente.»
Sinais
de Fogo (Parte
Segunda, VIII), Jorge de Sena, Guimarães Editores, 2009
O DESAFIO DE HOJE
Dia
24 - Fotografando
as palavras de outros sobre
este poema de grande beleza e frescura de que gosto muito
De
que aldeia será o cantor que chilreia em tom primaveril,
junto
a uma casa ainda envolta em névoa?
A
História de Murasaki, Liza
Dalby, Gótica, 2000
NOTA:
Interessante constatar como um poema tão antigo e de um país longínquo com uma cultura diferente da nossa, foi tão bem adaptado à realidade geográfica e à sensibilidade de cada um de nós. Gostei muito.
M
2. Benó
quinta-feira, abril 17, 2014
AGENDA PARA ABRIL DE 2014
Dia
24 - Fotografando
as palavras de outros sobre
este poema de grande beleza e frescura de que gosto muito
De
que aldeia será o cantor que chilreia em tom primaveril,
junto
a uma casa ainda envolta em névoa?
A
História de Murasaki, Liza
Dalby, Gótica, 2000
12. Zambujal
O
prazer de ler é contaminador. E subversivo. Cuidado com os que leem
e dão a ler. São os mais perigosos. Sobretudo neste tempo em que
não há, não pode haver!, tempo para ler.
Pennac,
em Comme un
roman,
é muito claro ao confessar “nunca
tive o tempo de ler, mas nada, em tempo algum, conseguiu impedir-me
de acabar um romance que eu estivesse a amar” e,
sem pudor, persiste logo um parágrafo adiante:
“A questão não está em saber se tenho ou não o tempo de ler
(tempo que ninguém, aliás, me dará) mas se me ofereço ou não o
prazer de ser um leitor”.
Zambujal
11. Teresa Silva
Se
os perigos que espreitam aqui, e por todo o mundo, fossem apenas
contaminações literárias, toda a gente estaria feliz.
Teresa
Silva
10. Rocha/Desenhamento
Não
vou considerar a composição e eventuais escalas dos elementos
formais da fotografia.
O seu efeito de surpresa quase nos transporta para o filme de Truffaut, “Fahrenheit 451", no qual um mundo futuro, totalitário, usava os bombeiros como agentes policiais incendiários, mandatados pelo poder para incendiarem todos os livros que encontrassem. A cultura era um mal alienante que as autoridades procuravam extinguir. Ora a fotografia que nos foi proposta apresenta, em contexto ambíguo, nocturno, um aviso de PERIGO relativamente à contaminação literária, post bilingue, português/inglês, o que só por si já é sinistro, uma língua de tutela universal e outra, a nossa, que é importante mas a tutela empurra para a famosa "periferia". Por agora, trata-se de uma brincadeira. Mas a brincadeira é uma espécie de previsão sobre o cada vez mais arrasante efeito da globalização.
O seu efeito de surpresa quase nos transporta para o filme de Truffaut, “Fahrenheit 451", no qual um mundo futuro, totalitário, usava os bombeiros como agentes policiais incendiários, mandatados pelo poder para incendiarem todos os livros que encontrassem. A cultura era um mal alienante que as autoridades procuravam extinguir. Ora a fotografia que nos foi proposta apresenta, em contexto ambíguo, nocturno, um aviso de PERIGO relativamente à contaminação literária, post bilingue, português/inglês, o que só por si já é sinistro, uma língua de tutela universal e outra, a nossa, que é importante mas a tutela empurra para a famosa "periferia". Por agora, trata-se de uma brincadeira. Mas a brincadeira é uma espécie de previsão sobre o cada vez mais arrasante efeito da globalização.
Rocha
de Sousa
9. Mac
Um
dia, a Humanidade foi atingida por um vírus... A contaminação
literária cobriu todo o planeta.
A partir desse dia, nada mais foi igual. A ignorância deixou de servir como arma preferida dos políticos, e a Humanidade nunca mais se comportou como carneirada...
A partir desse dia, nada mais foi igual. A ignorância deixou de servir como arma preferida dos políticos, e a Humanidade nunca mais se comportou como carneirada...
Mac
8. M.
A lembrar uma daquelas placas amovíveis usadas em espaços públicos com o aviso de que o chão está molhado e se torna perigoso para quem anda em cima dele. Nesses momentos é habitual abrandarmos o passo para evitar alguma queda indesejada mas, neste caso, apetece reagir como as crianças e espojarmo-nos com a provocação no riso.
M
7. Luisa
Não
vale a pena porem estes avisos, até porque as livrarias vão fechar.
Livros para quê, se só interessa saber ler uma folha de Excel?
Luisa
6. Licínia
Vê
a gente aquele sinal de rodelas imperfeitas, entrelaçadas, de preto
sobre amarelo, e logo lhe acode a ideia de perigo para lá dos
limites do aviso. Hiroshima, Tchernobil, Fukushima, outras estranhas
palavras, carregadas de destruição, afloram-nos as pontas dos dedos
e com elas afastamos do rosto uma súbita sombra, um inesperado
clarão. Eis senão quando, num segundo olhar mais perspicaz, as
palavras “contaminação literária” nos trazem um sorriso, uma
acalmia, um anúncio de tempo bom, de mergulho nas páginas onde os
mundos se abrem, os imaginados, os sabidos, os desconhecidos e outros
mais ainda, que nunca os mundos se cansam nem se fecham quando alguém
os sabe dizer.
Licínia5. Justine
Escritaria;
Correntes d’Escritas; feiras de livro – tudo actividades
perigosamente subversivas! Porque levam as pessoas a ler. Daí a
aprender é um passo. E depois de aprender, chega-se à compreensão
das coisas, às razões primordiais.
Sim, a contaminação literária pode ser epidémica, logo profundamente perigosa!
Há que evitá-la a todo o custo, dizem uns. Outros dirão: que se propague cada vez mais!
Sim, a contaminação literária pode ser epidémica, logo profundamente perigosa!
Há que evitá-la a todo o custo, dizem uns. Outros dirão: que se propague cada vez mais!
Justine
4. Jawaa
Bela
e oportuna imagem, quase uma ficção do porvir, os livros como
túmulos que só de tocar-se - menos ainda a coragem de os abrir ou
folhear - podem transmitir doenças, vírus guardados no pó, marcas
das mãos que os acariciaram no tempo em que mergulhar neles era uma
sensação indizível, sempre nova e fascinante.
Jawaa
3. Bettips
Os
livros são perigosos.
Assim pensava o tosco e manhoso que governou durante décadas este país ensombrado pela crendice, analfabetismo, miséria e favorecimentos.
Não se falava nela, na censura. Mas era como se houvesse um sinal de perigo radioactivo em todas as palavras desde que ditas nos lugares certos. Guerra e Paz, Amor e Ódio, Luz e Sombra.
Foi o que lembrei na Liberdade de hoje, este Abril tão-perto-ainda, ao olhar este símbolo.
Assim pensava o tosco e manhoso que governou durante décadas este país ensombrado pela crendice, analfabetismo, miséria e favorecimentos.
Não se falava nela, na censura. Mas era como se houvesse um sinal de perigo radioactivo em todas as palavras desde que ditas nos lugares certos. Guerra e Paz, Amor e Ódio, Luz e Sombra.
Foi o que lembrei na Liberdade de hoje, este Abril tão-perto-ainda, ao olhar este símbolo.
Bettips
2. Benó
Perigo/Contaminação literária é uma chamada de atenção real e bem actual dado o “boom” de escritores que aparecem diariamente com obras sobre os mais diversos temas mas que em nada enriquecem a nossa literacia contaminando, sim, com uma má escrita os valores que nos foram transmitidos por um Eça, Alexandre Herculano ou Agustina Bessa-Luis, para só citar estes portugueses.
Benó
1. Agrades
Contaminação
literária, um aviso raro mas necessário!
Publica-se
tanto lixo, dizem-se tantos disparates, que este aviso deveria
aparecer com frequência, como aqueles sinais de trânsito a avisar
de curvas perigosas, passagem de animais, estrada sem proteção,
etc., para nos evitar gastar o nosso tempo e dinheiro com edições
que não deviam ser publicadas.
Todos
acham que devem plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um
livro. E, custe o que custar, escrevem na árvore, plantam um filho,
e lixam um livro...
Agrades
quarta-feira, abril 09, 2014
O DESAFIO DESTA SEMANA
Dia
10 - Reticências
com
a frase “As
cores”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
11. Teresa Silva
As cores são, por vezes, difíceis de combinar. Perante uma tela em branco há sempre uma primeira hesitação: escolher uma harmonia monocromática, usar cores primárias ou secundárias, complementares ou contíguas. A paleta é quase infinita e o melhor é começar por escolher uma cor; as outras surgem de forma quase espontânea. Depois é só deixar fluir o gesto e, de repente, o quadro está terminado. No final do processo faz-se uma fotografia, para constar do arquivo.
Teresa Silva
10. Rocha/Desenhamento
As cores revestem tudo o que é e acontece no mundo. São reflexo das radiações do espectro solar, reflectidas pelas matérias que visitam, as matérias e os seus elementos constituintes. Mas, para além disso, as cores são também respostas subjectivas da nossa mente aos estímulos do real, no interior das nossas manipulações sensíveis, da nossa cultura visual, das diferenças simbólicas entre os objectos de todo o género e substancialmente em face dos espaços da flora, com as flores, em particular. A fotografia da flor aqui proposta abarca diversos aspectos simbólicos e até a sua próxima morte a aproxima de um destino que nos toca, natural e incontornável.
Rocha de Sousa
Rocha de Sousa
7. Luisa
6. Licínia
5. Justine
As cores variavam, de acordo com a inspiração da artesã, cingindo-se contudo a uma paleta pré-determinada. Os paus de incenso chegavam-lhe à banca de trabalho já preparados: era só mergulhá-los nos banhos de cor, armá-los em leque para que secassem mais depressa, e pô-los no expositor, bem à vista de quem passasse.
Mais tarde, alguns seriam comprados por crentes, para serem queimados nos templos. Outros seriam levados na bagagem do turista, para recordar alguma da beleza encontrada nas margens do rio Mekong.
(foto tirada de facto numa aldeia do delta do Mekong)Mais tarde, alguns seriam comprados por crentes, para serem queimados nos templos. Outros seriam levados na bagagem do turista, para recordar alguma da beleza encontrada nas margens do rio Mekong.
Justine
3. Bettips
As
cores … do arco-íris são apenas um fenómeno óptico do espectro
da luz do sol, decompondo-se ao incidir sobre gotas de chuva. A
curiosidade levou-me além desta ideia inicial aprendida há recuados
anos. Se olharmos o mesmo arco-íris de lugares diferentes, cada um
verá “o seu arco-íris”.
Assim, ali em frente era o meu, particular: o mesmo sol, no espaço onde estou, na cidade onde vivo, num arco do tempo com duas extremidades. E um espelho.
Das idades do vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta.
Assim, ali em frente era o meu, particular: o mesmo sol, no espaço onde estou, na cidade onde vivo, num arco do tempo com duas extremidades. E um espelho.
Das idades do vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta.
Bettips
2. Benó
As cores fortes que CLAUS VON OERTZEN pôs nesta obra transmitem-nos a musicalidade das óperas e oratórias de Schubert ou Schumann que este músico/pintor de origem alemã tão bem interpreta. Nas suas pinturas existe música assim como o seu canto é rico em tonalidades, “Enquanto a música é momentânea, a pintura perdura”, diria von Oertzen, que residiu algum tempo no algarve.
Esta tela intitulada “Religioso” fazia parte da coleção SONS PINTADOS exposta no Centro Cultural de Vila do Bispo em 2000. Foi aí que a adquiri e desde então, o seu colorido adorna uma das paredes da minha sala transmitindo-me calor e música.
Esta tela intitulada “Religioso” fazia parte da coleção SONS PINTADOS exposta no Centro Cultural de Vila do Bispo em 2000. Foi aí que a adquiri e desde então, o seu colorido adorna uma das paredes da minha sala transmitindo-me calor e música.
Benó
quinta-feira, abril 03, 2014
AGENDA PARA ABRIL DE 2014
Dia
10 - Reticências
com
a frase “As
cores”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
O DESAFIO DE HOJE
Dia
3 - Ao
jeito de cartilha: Proponho-vos
que usemos a sílaba “Te”
para formar as nossas palavras. O
texto que alguns de nós acrescentarmos é facultativo.
11. Zambujal
6. Licínia
3. Bettips
Teleférico
Ali
estava a ponte
móvel
que corria entre os fios, num vaivém. Vazio de turistas e aguardando
melhores dias. O teleférico
moderno, unindo o baixo e o alto da velha Gaia, olhando de cima as
ruas tortuosas dos pobres antigos, sobre os telhados
dos pescadores, de armazéns das caves centenárias,
de construções de novos ricos. Ia-se à Afurada ao peixe e aos
arraiais de pé ligeiro na chinela. Lá em cima, estamos de novo
enganados no tempo: já ninguém vende o sável que não lhe chame
“gourmet”.
Bettips
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