Amanhã, sem falta, escrevo-lhe. Sei que espera notícias minhas, tão sozinha ficou quando regressei ao meu poiso habitual. Negras as vestes sobre o seu corpo de mulher, como estátua esculpida por artesão de um lugar de silêncios a vejo. Será vértice de ecos antigos, perdidos alguns, resguardados outros na dureza da pedra ou no encantamento da memória, dispersando-se ainda outros na voragem dos dias por preencher. Naquele ermo pardacento, apenas o vermelho da caixa de correio pendurada na ombreira de uma porta fechada, a lembrar coração que se recusa a morrer dentro de vida amortalhada.
M
11 comentários:
M., a fotografia está espantosa de rigor, depuração, equilíbrio. O texto, a condizer - delicioso o pormenor da caixa de correio...
Uma grande fotografia, uma belíssima
atmosfera
Escreve-lhe, depressa, e reconforta-a com as belas palavras que tão bem dominas.
De repente lembrei-me de "Ninguém escreve ao Coronel" de GG Marques. Realmente, esta fotografia traz consigo uma "falta de notícias" desoladora. Linda, essa bêco de solidão em que reparaste!
Tudo tristemente lindo, foto e texto. A lembrar-me um filme de Tarkovsky.
Soutelinho da Raia, 2010.
O vivo retrato da solidão
O vivo retrato da solidão
Ah... bem sei, as nossas belas aldeias esquecidas, a nossa gente que fica (tenho uma mais perto da senhora que aí caminhava). Ainda bem que nos "pegou" a mania dos caminhos esses, que tempo, gente, pormenores tantos e paisagens... eu cá não sei se os conseguiria ver/fazer agora.
Bjinhos da bettips
Escreve-lhe sim, pois as tuas palavras são bálsamo para a sua solidão.
Apetece correr até ali e dar-lhe um abraço
Bela imagem e palavras não menos belas.
Perfeito o conjunto que nos passa o sentir da urgência de escrever uma carta para mitigar a solidão.
Enviar um comentário