quinta-feira, setembro 11, 2014

7. M.



Amanhã, sem falta, escrevo-lhe. Sei que espera notícias minhas, tão sozinha ficou quando regressei ao meu poiso habitual. Negras as vestes sobre o seu corpo de mulher, como estátua esculpida por artesão de um lugar de silêncios a vejo. Será vértice de ecos antigos, perdidos alguns, resguardados outros na dureza da pedra ou no encantamento da memória, dispersando-se ainda outros na voragem dos dias por preencher. Naquele ermo pardacento, apenas o vermelho da caixa de correio pendurada na ombreira de uma porta fechada, a lembrar coração que se recusa a morrer dentro de vida amortalhada. 
M

11 comentários:

Justine disse...

M., a fotografia está espantosa de rigor, depuração, equilíbrio. O texto, a condizer - delicioso o pormenor da caixa de correio...

Rocha de Sousa disse...

Uma grande fotografia, uma belíssima
atmosfera

agrades disse...

Escreve-lhe, depressa, e reconforta-a com as belas palavras que tão bem dominas.

bettips disse...

De repente lembrei-me de "Ninguém escreve ao Coronel" de GG Marques. Realmente, esta fotografia traz consigo uma "falta de notícias" desoladora. Linda, essa bêco de solidão em que reparaste!

Licínia Quitério disse...

Tudo tristemente lindo, foto e texto. A lembrar-me um filme de Tarkovsky.

M. disse...

Soutelinho da Raia, 2010.

Luisa disse...

O vivo retrato da solidão

Luisa disse...

O vivo retrato da solidão

Anónimo disse...

Ah... bem sei, as nossas belas aldeias esquecidas, a nossa gente que fica (tenho uma mais perto da senhora que aí caminhava). Ainda bem que nos "pegou" a mania dos caminhos esses, que tempo, gente, pormenores tantos e paisagens... eu cá não sei se os conseguiria ver/fazer agora.
Bjinhos da bettips

mena maya disse...

Escreve-lhe sim, pois as tuas palavras são bálsamo para a sua solidão.
Apetece correr até ali e dar-lhe um abraço

jawaa disse...

Bela imagem e palavras não menos belas.
Perfeito o conjunto que nos passa o sentir da urgência de escrever uma carta para mitigar a solidão.