Outrora
houve por ali casas e nas casas houve gente que chegava à janela e
olhava para o céu onde os únicos passantes eram aves, talvez os
pardais da cidade, as andorinhas primaveris, as gaivotas que procuram
terra quando a borrasca se avizinha. Muitas dessas casas ainda ali
estão, com outra gente nelas, gente que para ver o céu precisa de
esticar mais o pescoço, de dirigir os olhos mais para cima, não vão
eles esbarrar na estrada que depois apareceu, suspensa em altas
pernas, longa, longa, caminhando sobre a terra, sobre o rio, sobre a
terra de novo. Os que nela passam, muito alto, muito alto, olham para
baixo, para os telhados das casas, para as pessoas pequeninas, para
os barcos no rio. Olham, como olham os pardais, as andorinhas, as
gaivotas e outros, como eles, passageiros do céu.
Licínia
Sem comentários:
Enviar um comentário