quinta-feira, maio 21, 2015

4. Licínia

Outrora houve por ali casas e nas casas houve gente que chegava à janela e olhava para o céu onde os únicos passantes eram aves, talvez os pardais da cidade, as andorinhas primaveris, as gaivotas que procuram terra quando a borrasca se avizinha. Muitas dessas casas ainda ali estão, com outra gente nelas, gente que para ver o céu precisa de esticar mais o pescoço, de dirigir os olhos mais para cima, não vão eles esbarrar na estrada que depois apareceu, suspensa em altas pernas, longa, longa, caminhando sobre a terra, sobre o rio, sobre a terra de novo. Os que nela passam, muito alto, muito alto, olham para baixo, para os telhados das casas, para as pessoas pequeninas, para os barcos no rio. Olham, como olham os pardais, as andorinhas, as gaivotas e outros, como eles, passageiros do céu.
Licínia

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