Eu
andava pelo bairro lembrando lugares, reconhecendo-os, descobrindo
diferenças trazidas pelos anos de ausência, pisando devagar as
pedras do caminho que me levava ao liceu onde fui aluna durante cinco
anos. A certa altura, ao olhar para cima, reparei no enquadramento da
janela entreaberta: o rosa vivo, a parede fechada do outro lado, os
ramos secos das árvores, o céu azul, os telhados escondendo vidas,
o pedacinho da plataforma da ponte. Parei, o olhar preso lá longe, à
espera que algum carro passasse e eu conseguisse captá-lo através
da minha máquina fotográfica, apesar da pressa com que se
deslocavam, como se, uns atrás dos outros, fugissem de mim.
Aprisionei a camioneta, tão pequenina na distância. E pensei:
interessante como a distância pode fazer parte do que nos está mais
próximo.
Entre
a brevidade dos momentos e a permanência me construo e reconstruo.
Eu, a adulta de hoje, e a outra eu, a da infância e da juventude. E
no entanto sempre eu, fiel companhia que me sustém no mapa da minha
existência.
M
Sem comentários:
Enviar um comentário