Proposta
de Licínia
Dia
31
Fotografando
as palavras de outros sobre
«A
voz das cigarras enlouqueceria qualquer um, eram elas as donas da
ilha e faziam questão de demonstrar o seu poder. Tantas as
linguagens que Omid conhecia e aí estava uma a que nunca prestara
atenção, a dos habitantes sub-reptícios do terreno. As línguas à
sua volta já começavam a ser familiares. Na Turquia convivera com
todos, contando as horas uma a uma, no pavor de ser preso. Como
todos, negociara a travessia, esperara noites e noites, acachapado
entre as sombras escusas de uma margem errada. Como todos, trocara
moedas por pedaços de pão e tâmaras, também por documentos. Até
as entoações, os sotaques, começava a distinguir, nos farrapos de
conversas, nos modos usados para acalmar as crianças que puxavam
insistentemente as saias das mães, fartas de atravessar caminhos que
as picavam, fartas de acreditar que o sonho mau estava a passar e que
a boa sorte as surpreenderia mesmo mesmo ao virar da esquina, ao
virar do barco.»
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