Gosto quando a arquitectura nos diz de encontros e desencontros, de gostos, funções, testemunhos de muitas e variadas ordens de sucessivos mandantes, e nos deixa perplexos na procura de um fio que nos conduza e nos conte histórias de destruições, de cataclismos, de faustos e misérias e básicas utilidades. A segurar a história estão as pedras, as dos tempos muito antigos, as de hoje, e a juntá-las a cal, a cobri-las a tinta. Da gruta à pirâmide quanto caminho andado, quanto deserto nascido. Do palácio à choupana, quantos amores vividos, quanta fome, quanta sede de mar. De tudo isto me alimento quando inauguro um sítio escuso, algures, na torreira da tarde, onde ninguém se demora, que ninguém guarda na memória.
Licínia
(Lisboa, Cordoaria Nacional, traseiras)
6 comentários:
A arquitectura, as pedras, afluentes de um correr de prosa que é poema.
Gosto deste discorrer sobre arquitetura
Luisa
A arquitectura sempre me fascinou, a Cordoaria é um dos grandes edifícios de Lisboa onde sempre me "perco"
Interessante. Aqui demonstrado que as traseiras de um edifício tal podem esconder uma beleza muito objectiva. Eu o vi, em amarelo, e nunca pensei tal coisa que aqui dizes. Da face e contra-capa.
Interessante texto. A arquitectura sofre grandes mutações ao longo dos séculos e a cordoaria não é excepção. Agora está num tom amarelo forte e não conheço as outras transformações.
Teresa
Gosto muito desta tua escolha do preto e branco sobre o amarelo que conheci num dia em que visitei este lugar. E o teu texto a falar-nos das traseiras do mundo que por vezes não vemos nem queremos ver.
Enviar um comentário