Entre
outras coisas, diz Richard Ford na Nota do Autor do seu livro Entre
Eles – Recordando os Meus Pais, Porto Editora, junho de 2020, «(…), entrar
no passado é uma empreitada incerta, porque o passado, por muito que se esforce
por fazer de nós quem somos, fica sempre aquém.»
Os meus pais, ambos nascidos em Lisboa, encontraram-se por acaso em Moçambique, julgo que através de amigos comuns, casaram em 1940 e regressaram à Europa em 1946 com os dois filhos. O meu pai tinha ido trabalhar para a então Lourenço Marques depois de acabar o curso de Engenharia Química na Universidade Técnica de Berlim. À minha mãe, sendo ela solteira, o irmão mais velho, a viver também lá, divorciado, pediu-lhe ajuda para tomar conta dos dois filhos de 6 e 3 anos. E ela, generosa como era, aceitou, largou Lisboa e pôs-se ao caminho. Julgo que nos 13 anos que os meus pais viveram em África foram felizes. Gostavam muito um do outro, mas a vida nem sempre lhes sorriu, tanto a nível de saúde como económico, numa espiral de adversidades que se foram agravando com a idade. Morreram em casa aos 71 anos, no espaço de dois meses entre ambos. Eu tinha 30 anos. Demasiado doloroso. Demasiado cedo para se perder os pais.
M
5 comentários:
Entrar no passado é uma aventura que me entusiasma. Somos o resultado da união entre os que nunca saíram do lugar e dos que chegaram ao lugar. Grandes viajantes os teus pais.
Gostei muito do teu texto, M. Mas gostei ainda mais da subtileza da foto, da "espiral de adversidades". Que bonito.
História de um casal unido, que até na morte quase coincidiram. E entendo muito, mesmo muito bem a tua dor...
Estou como dizes: é sempre cedo para se perderem os Pais
luisa
Uma imagem muito em sintonia com o texto.
Teresa
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