DOIS
DOIS dedos de conversa e um copo de DOIS, era tudo o que Manel pedia e precisava. E na taberna do Zé Russo, para os poucos amigos que lá estavam, começou a contar as suas mágoas. E contou daquela guerra cruel e estúpida que tivera de suportar. Anos 60 do século passado. No entanto as feridas que trouxe, no corpo e na alma, não eram nada comparadas com o horror que agora lhe batera à porta. De longe, de um país distante, viera a notícia que mais uma vez derrubou suas crenças. Sua filha, genro e neto, ocasionalmente num hospital da Palestina, foram mortos, atingidos por artilharia alheia. No meio de uma guerra, tão cruel e estúpida, como a que ele próprio assistira.
Manel já não tinha lágrimas para chorar. Aos amigos, só pedia DOIS dedos de conversa. E que lhe explicassem o porquê de tanta barbárie.
Zé Viajante
6 comentários:
Terrível a história do Manel. Dois dedos de conversa serão suficientes para acalmar a sua dor?
Luisa
Lindo texto
Muito actual, a descrição da dor passada e a presente. Espera-se que os antigos combatentes morram para falar de tudo o que lhes aconteceu. E não há "porquês", é a Guerra e as feridas que faz e que deixa.
Um belo testo sobre a dor humana.
Que horror, estou com a Luísa, talvez 2 dedos de conversa não cheguem
E quantas pessoas mais estão neste momento com dores semelhantes às do Manel.
Mundo louco, mundo sinistro, mundo cruel, este!
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