Um pequeno excerto de um livro estranho de que se vai gostando à medida que se vai lendo:
«Havia lágrimas nos olhos de Ela depois de dizer o que tinha dito. Junot estava sentado no sofá, silencioso e quieto, incapaz de se mover. Ela aproximou-se dele e abraçou-o com força. Primeiro ele repeliu-a. Mas depois agarrou-se a ela como se a sua vida dependesse de ela o abraçar.
− Oute alofa ia oe − disse, com lágrimas nos olhos (a primeira frase em samoano que ele lhe pediu para dizer quando duas pessoas de línguas diferentes se encontram: «Diz qualquer coisa em espanhol», «Yo te amo», «O que é que isso quer dizer?», «Quer dizer eu amo-te, Miss Ela. Como se diz “eu amo-te” em samoano?» Ela abanou a cabeça e em vez disso cantou, «Savalivali quer dizer vai dar um passeio», e ele continuou a insistir até que ela finalmente lhe disse: «Oute alofa ia oe», e ele sentiu um arrepio na espinha a primeira vez que a ouviu. Durante todo esse dia levou o amor dela consigo. Tornava o trabalho mais fácil, menos gordurento. «Oute alofa ia oe», e ele repetiu as palavras vezes sem conta, enquanto virava os hamburgers, gritando aos outros carros que lhe saíssem da frente enquanto voltava a casa nessa noite, «Oute alofa ia oe», até que não conseguia pensar noutra coisa. Abalado só quando ela chegou a casa dois anos mais tarde e lhe disse que se ia mudar. Era como se lhe tivessem cravado uma lança no coração. O seu coração ferido e a sangrar, todo embrulhado no calor de «Oute alofa ia oe».)»
As Mulheres Que não Choram, Sia Figiel. Temas & Debates
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