NÃO TENHO CASA PARA ONDE VOLTAR
nem esperança onde me abasteça
por isso caminho.
As casas entram em derrocada quando passo
a terra é uma serapilheira de escombros.
Detenho-me a admirar as pás mecânicas
os movimentos das escavadoras eriçam-me de desejo.
De noite as contemplo:
os perfis imóveis das pás
descansando sobre o céu azul cobalto
ao lado da lua de luz nacarada
são ainda mais belos que os braços dos homens que as manipulam
e as escavadoras
com as suas enormes bocas abertas e cheias ainda
de terra e escombros
parecem enormes animais mortos.
Os meus pais ensinaram-me a nunca ter nada.
Ensinaram-me a nunca voltar para casa
a nunca dizer esta casa é minha
aqui moro eu
neste lugar que amo.
Fecho a porta e não preciso de olhar para trás para saber
que a casa já não existe.
Em nenhum lado sem falar com ninguém moro
mas se nos encontrarmos
posso ensinar-te a caminhar sorridente sobre a desolação.
Miriam Reyes (Espanha, 1974)
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Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/
http://cristalina.multiply.com/
6 comentários:
Quase ...arde como álcool na ferida. Tão bonito...Pessoas, poema e foto. Bj
Este é dos poemas mais enigmáticos que tenho lido. Daqueles a que se volta cada dia, até o perceber completamente ou nunca o compreender.
Enigmático ou pessoal, como quando quisemos dizer ao Mundo aquilo que guardamos só para nós. Mas belissimo bem como a foto.
Bjs
TD
Adorei o poema! É lindissimo! É uma lição de vida...
A nossa casa é nos braços da pessoa que amamos... «Fecho a porta e não preciso de olhar para trás para saber que a casa já não existe.»
:)
A fotografia do S. também está linda!
Amélia: fizeste parte dos meus primeiros vôos pelos blogs, gostava muito do teu, nome, fotos, palavras. Mas nunca consigo comentar-te. Deixo-te aqui UM ABRAÇO ANTIGO!
Quando vi esta fotografia no Diafragma automaticamente liguei-a ao título que lhe deu ("O Gladiador")
Confesso que não a revejo no poema. Mais no homem de espada curta no meio da arena sem poder de decisão a enfrentar animais que o querem matar enquanto o palco em sua volta apela ao sangue.
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