COM AS PALAVRAS DENTRO DO OLHAR
Alimento algumas suspeitas quanto à sanidade da situação que nos é proposta, mesmo que não passe de uma metáfora. Disfarçamos as lágrimas, como nos filmes, com a desculpa de que nos entrou qualquer coisa para o olho. Mas vou espreitar-me ao espelho, há letras de jornal, meio desfeitas, que o vento nos cola perto de iris, ainda que raramente.
Não há nada dentro do olho, nem palavras, nem letras, nem pó. Deduzo que se trata de um estímulo poético à criação, folheando pétalas e folhas manuscritas redescobertas no fundo de uma gaveta. Um dia, para começar um livro, escrevi assim: «Morri ontem, com a boca cheia de palavras e os olhos tapados de imagens.» Esta abertura é naturalmente suspeita, própria da liberdade artística, e só nessa medida é que vejo palavras dentro de olhos, os meus, por acaso, mas em mim isso não desenha nenhuma estranheza porque eu sempre misturei as palavras com as imagens. A palavra pensa a imagem. Mas pensa-a com o olho, em certa medida ela entra para dentro dele, mil vezes por uma imagem, mil imagens para mil palavras, ou uma apenas, uma só a pensar o já visto, textos feitos de letras, palavras e restos de imagens a escorrer matéria ficcional para o fundo do nosso imaginário. É isso: é tudo mentira, porque, em arte, só pela mentira se inventa a verdade.
Não há nada dentro do olho, nem palavras, nem letras, nem pó. Deduzo que se trata de um estímulo poético à criação, folheando pétalas e folhas manuscritas redescobertas no fundo de uma gaveta. Um dia, para começar um livro, escrevi assim: «Morri ontem, com a boca cheia de palavras e os olhos tapados de imagens.» Esta abertura é naturalmente suspeita, própria da liberdade artística, e só nessa medida é que vejo palavras dentro de olhos, os meus, por acaso, mas em mim isso não desenha nenhuma estranheza porque eu sempre misturei as palavras com as imagens. A palavra pensa a imagem. Mas pensa-a com o olho, em certa medida ela entra para dentro dele, mil vezes por uma imagem, mil imagens para mil palavras, ou uma apenas, uma só a pensar o já visto, textos feitos de letras, palavras e restos de imagens a escorrer matéria ficcional para o fundo do nosso imaginário. É isso: é tudo mentira, porque, em arte, só pela mentira se inventa a verdade.
Rocha de Sousa
1 comentário:
Complexidades do ser humano.
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