Foi este o texto que serviu de inspiração ao desafio Fotografando as palavras de outros.
As 13 fotografias abaixo identificadas mostram a maneira como cada um de nós reagiu, através da imagem, à escrita deliciosa de Mário Cláudio.
«O senhor Soares
percorre as áleas do Jardim da Estrela, o qual se estende como o
fantasma de um parque antigo, dos séculos antes do descontentamento
da alma. E enquanto os cisnes deslizam no espelho de água o senhor
Soares, contemplando-os com os olhos semifechados por detrás das
lentes, magica numa quermesse em que participam columbinas e pierrots
e arlequins. Observa a criança que apanhou um tabefe da mãe por ter
desejado mais um caramelo, e compadece-se do choro desabalado, vendo
nele a metáfora da condição de todos nós, ambiciosos de uma cor
inatingível, e do paladar que lhe corresponde. O senhor Soares
repara agora no soldado que passa o braço pelos ombros da criadita
no banco que fica à beira do canteiro de gladíolos, e inventa o
teor das cartas que os dois se trocam ao longo das semanas, e nas
quais se tratam por «meu adorado amor», «minha vida», e «riqueza
do meu coração». O senhor Soares leva os sapatos ligeiramente
cambados, a dobra das calças surradas pelo pó, e o cabelo ao léu,
mal lambido pela brilhantina. Aproxima-se de uma rapariga de
expressão azougada, uma dessas moreninhas que gostam de exteriorizar
uma certa malícia, simbolizada pela vírgula do penteado que se lhes
cola à testa. E tudo isto se mistura na minha visão, não sei bem
porquê, com um romance ancestral, em cujas linhas intervêm Hamlet e
Ofélia, heróis do grande Shakespeare, que só conheço de ouvir
falar. (...)»
Boa
noite, senhor Soares,
Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, 2008
1 comentário:
Oh... Manuela! Desta vez peço desculpa publicamente e não em privado: como é que eu deixei passar esta semana?
Peço desculpa a todos, porque foi sem razão, e à M. em particular porque não a avisei de que não ia participar. Obrigo-me assim a comentar, uma por uma, cada imagem.
Abraço
Jawaa
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