Dia
28 - Fotografando
as palavras de outros sobre
o excerto abaixo reproduzido, que considero muitíssimo interessante.
Embora corra o risco de que este texto possa ser sentido por alguns
como pesado ou perturbador, ele é, na minha opinião, uma reflexão
sábia, e por isso mesmo também reconfortante, perante uma realidade
que acompanha a existência humana.
«Conseguem
imaginar a velhice? É claro que não. Eu não conseguia. Não era
capaz. Não fazia a mínima ideia de como era. Não tinha sequer uma
falsa ideia – não tinha imagem nenhuma. E ninguém quer outra
coisa qualquer. Ninguém quer enfrentar nada disto antes de não ter
outro remédio. Como vai ser? (...)
(…)
Compreensivelmente, é inimaginável qualquer fase da vida mais
adiantada do que a nossa. Às vezes já vamos a meio da fase seguinte
antes de nos darmos conta de que entrámos nela. (…)
Há
que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer
ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos
morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser
arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única
coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é
que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso
imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada.
Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já
fomos.
Mas ser velho também significa que, apesar de, e além de e para lá
do nosso estado de ser, ainda somos.
O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão
atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo
já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do
seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um
facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo
que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre.
Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais
enquanto vivermos.»
O
Animal Moribundo,
Philip Roth, Publicações Dom Quixote, Novembro 2008
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