quinta-feira, fevereiro 28, 2013

«FOTOGRAFANDO AS PALAVRAS DE OUTROS»

Assim se cumpriu o desafio desta semana, parecendo-me que de modo agradável e criativo. 
Nalguns casos, os autores das fotografias abaixo partilhadas acompanharam-nas com excertos do texto de Philip Roth ou com palavras ao jeito de cada um. Terá sido a maneira de, sendo o texto grande, provocador e difícil de ilustrar no seu todo com uma imagem apenas, evidenciar a parte que mais terá tocado a cada um de nós. Julgo eu, assim aconteceu comigo.
  
«Conseguem imaginar a velhice? É claro que não. Eu não conseguia. Não era capaz. Não fazia a mínima ideia de como era. Não tinha sequer uma falsa ideia – não tinha imagem nenhuma. E ninguém quer outra coisa qualquer. Ninguém quer enfrentar nada disto antes de não ter outro remédio. Como vai ser? (...)

(…) Compreensivelmente, é inimaginável qualquer fase da vida mais adiantada do que a nossa. Às vezes já vamos a meio da fase seguinte antes de nos darmos conta de que entrámos nela. (…)

Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada. Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já fomos. Mas ser velho também significa que, apesar de, e além de e para lá do nosso estado de ser, ainda somos. O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre. Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais enquanto vivermos.»

O Animal Moribundo, Philip Roth, Publicações Dom Quixote, Novembro 2008

1 comentário:

bettips disse...

Uma vez mais, usamos a imaginação num texto que, disse à M., a mim me foi pesado!