quarta-feira, maio 06, 2015

6. M.



                         Balde

Debalde foi ali pousado o balde em descanso temporário, pensado como sendo de bom préstimo para quem regasse a horta ou arrecadar nele os legumes colhidos pela manhã. Mas qualquer coisa deve ter corrido mal. Alguma embirração com o seu aspecto antiquado e enferrujado, ou preferência por balde de plástico garrido comprado na feira mensal, talvez uma represália, e vá lá saber-se o motivo, nas aldeias é comum sobreporem-se as vindictas à natureza pura da terra. Em vez do estado de provisória quietude na beira do tanque, passou o balde ao estado de abandono vitalício, ainda por cima taparam-lhe a boca, nem gritar ele pode, coitado. Suplício supremo, penso eu, quase o de Tântalo. 
M

5 comentários:

agrades disse...

DEve estar DEsesperado por ter sido abandonado...

Luisa disse...

Sempre perfeitas as tuas fotos, com poucos efeitos dizem tudo.

Justine disse...

mais um objecto com vida própria, como tu tão bem sabes fazer...

Licínia Quitério disse...

Assim mesmo, de boca colada ao muro, o balde murmurou o desalento pela velhice que mal vai vivendo.
A tua Objectolândia é tão Humanolândia!

bettips disse...

Descansou a foice e as ervas daninhas. O balde revoltou-se e ficou "de trombas", a água continuou a regar... o mundo não parou. As palavras de adivinhação das coisas comuns surgiram, uma vez mais.