quinta-feira, março 23, 2023

4. Licínia

 

Ninguém pode dizer há quanto tempo ali estão. Há quem diga que quando começaram a partida eram novos, bem nutridos e trajavam coletes de cores garridas, à moda da sua terra. Outra gente ainda se lembra de os ver com sinais de idade madura, pálidos, de grandes barbas e bigodes.

Com o passar dos anos, aquela praça onde se sentam a jogar passou a ser menos frequentada e talvez por isso haja raros testemunhos de quem os viu muito mais magros, usando coletes cor de terra queimada.

Hoje lá permanecem, expostos ao impiedoso sol tropical, impávidos e mudos, nas suas vestimentas duras como metal, oxidadas nas costuras.

Estão cansados, mas não desistem do cheque ao rei. A partida infinita nenhum deles ganhará, é o que sabem. 

Licínia

6 comentários:

bettips disse...

Muito interessante o que encontraste e nos mostras. Fizeste-me lembrar "O Sétimo Selo"...

Justine disse...

História muito bem contada, Licínia, a partir desta interessante escultura!

Anónimo disse...

Interessantes este "enferrujados". Onde os poderemos ver?
Luisa

Margarida disse...

Lindíssima a cumplicidade metálica e a escrita. Muito bom!

Licínia Quitério disse...

Luísa, em Cartagena das Índias.

Mónica disse...

ía perguntar onde eram os trópicos dos xadrezistas, Colômbia, gostava de lá ir, América do sul, caraíbas, como diz a Luisa, já não vou a tempo :)))) muito interessantes imagem e texto