Lembrei-me deles quando ali passei logo na primeira vez que reparei no chapéu sobre o banco, voltei a passar e voltei a passar, enquadro e fotografo mentalmente o chapéu sobre o banco, naqueles breves segundos em que passo por ali, penso neles, já confundo se é premeditado o ato de passar ali para não me esquecer deles, um casal que passou por aqui no Verão, ele restaurou o banco que estava a monte no pátio, pôs tábuas novas, envernizou-as, substituiu os parafusos velhos por novos, ficou como novo, um banco para os dois se sentarem, ela usava o chapéu, a sua sombra no pátio, comiam, risinhos e conversas que só eles compreendiam, às vezes apetecia-me mandá-los calar, que inconvenientes mesmo aqui debaixo da minha janela, horas tardias, sentados no banco a fazer sei lá o quê, estaria ela ainda de chapéu àquela hora? Era bom que sim, pelas vezes que me apeteceu deitar-lhes com um balde de água para se calarem. Foram-se. Penso neles quando passo por ali. Ela esqueceu-se do chapéu, ou talvez para onde foi não precise do chapéu, às vezes temos essa mania de largar coisas quando vamos de um lado para o outro, ele deve ter achado que transportar o banco seria maior o incómodo que o proveito, ou deixaram o banco e o chapéu para eu me lembrar deles quando ali passo, uma espécie de espera até ao nosso regresso.
Mónica
4 comentários:
"Ouvi" o teu pensamento ao ler o texto! Muito belo!
Inclino-me mais para que o banco e o chapéu ali deixados sirvam para que escrevas algo tão bonito quanto isto... Belo!
Eram turistas... vieram para o sol. Mas lá onde estão não precisam dele.
Deu-te para a escrita do pensar, intimista, algo divertida, em corrente.
Em círculos a vejo, valeu a pena!
bettips
Um texto romântico sobre a importância das coisas e dos momentos.
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