Não sou de fiar em matéria de cheiros e paladares, desconfio que sou maníaca dos cheiros e tenho os sabores baralhados. Dou-lhes muita importância e nomes, talvez uma herança de família, a gelatina sabe a pó, a casa cheira a asma, a roupa cheira a penas de galinha... Gosto de começar a refeição com o sabor da sobremesa, fico a saber se vale a pena esperar pelo fim, a refeição ganha outro ânimo e prepara-me para o prato salgado. Não aprecio o sabor do vinho, pode ser seco, húmido, de uvas verdes ou pretas, sabe-me a áspero e a álcool. Não gosto quando há um rasto de perfume nas escadas, à entrada da minha casa, quem diz perfume diz cozinhados a ranço ou o amoníaco dos perfumes da moda nos apertos dos transportes públicos. Gosto do cheiro a lavado do gel de duche e da deliciosa memória do cheiro a sabonete das mãos do dentista da minha infância, no tempo em que os dentistas metiam as mãos nuas na boca dos doentes, o cheiro a doctor lou. E por fim um dos meus sabores a felicidade: gelado de baunilha sobre uma torrada quente com manteiga.
Mónica
5 comentários:
Delicioso este texto de misturas, Mónica. Faz-me sorrir esta condimentada associação de cheiros e sabores.
Um divertimento para a visão estas estranhezas do teu gosto!
Que ligações algo surpreendentes. Essa do gelado de baunilha mais manteiga despertou-me vontade de provar.
Encantador o teu texto meio anarca! mas um dia hás-de explicar-me o prazer que dá começar um almoço, digamos de feijoada, ou cozido à portuguesa, ou até de goraz assado no forno ou bacalhau à lagareiro com o bolo de chocolate da sobremesa :-) :-)
Licínia, havemos de tomar chá (torradas e gelado) juntas :))
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