quinta-feira, novembro 03, 2022

UM EXTRA A PEDIDO DA MENA

Depois deste meu testemunho muito pessoal, tomo a liberdade de partilhar um texto retirado do portal Voa Portugal sobre o meu pai, a quem se devem importantes mudanças na Aviação Comercial.

«Enrique Dantas Maya

Nasceu em Benfica a 16 de Agosto de 1917, filho do Brigadeiro Piloto Aviador António de Sousa Maya e de Maria Clotilde Ripamonti Dantas. Realizou os seus estudos secundários no Colégio Vasco da Gama e iniciou a sua carreira na Aeronáutica Militar em 1939, tendo sido colocado como Alferes Piloto na Base aérea nº 2 na Ota. Voa integrado na esquadrilha de caça os aviões Gloster Gladiator, Curtiss Hawk, Hawker Hurricane e Bell Aircobra. Em Janeiro de 1943 é nomeado para fazer parte da esquadrilha de Caça nº 4, expedicionária aos Açores, sendo transferido posteriormente para a esquadrilha de Hawker Hurricane na Base Aérea do aeroporto da Portela. Em 1941 casa com Maria José Peile da Costa Maya, de quem teve 14 filhos, dos quais três enveredaram pela carreira do pai.

A 30 de Abril de 1945, já com a patente de Tenente, é convidado por Humberto Delgado a fazer parte do primeiro grupo de pilotos contratados pelo Secretariado de Aeronáutica Civil – SAC para os recém-criados Transportes Aéreos Portugueses. Frequentou a “Central Training School” na BOAC em Whitchurch, Inglaterra, integrado os Onze de Inglaterra como ficaram conhecidos, tendo obtido a sua licença de Piloto e Navegador de Transportes Públicos.

Regressado a Portugal e na companhia de José Marcelino e Benjamim de Almeida ruma à recém-criada CTA (Companhia de Transportes Aéreos), que inicia a 3 de Dezembro de 1945 a ligação regular entre Lisboa e Porto, com os seus característicos DeHavilland DH-89A Dragon Rapide de cor vermelha.

Regressado aos TAP em Março de 1947 é promovido em Novembro a Comandante de Douglas DC-3 “Dakota”.

Após o prematuro desaparecimento do seu grande amigo e colega Benjamim de Almeida a 27 de Janeiro de 1948, piloto chefe desta empresa morto na sequência de um grave acidente no Monte da Caparica durante um voo de instrução nocturno com mau tempo, Enrique Maya foi nomeado para a chefia do Serviço de Voo, sendo o verdadeiro mentor da renovação doutrinária das Operações de Voo da empresa. Paulatinamente reorganiza os Serviços de Voo, de Operações, de Instrução, de Navegação e de Informação Aeronáutica. Homem profundamente religioso e de fortes convicções, assumia no âmbito profissional uma atitude de quase obsessão, transmitindo aos seus pares a segurança e solidez profissional tão necessária.

O seu valor técnico e as suas grandes qualidades de estudioso cedo ultrapassaram as barreiras da companhia aérea nacional, tendo sido várias vezes nomeado pelos poderes públicos para representar Portugal em reuniões técnicas de carácter internacional, nomeadamente na ICAO e IATA.

A 14 de Junho de 1950 coube-lhe a ele comandar o DC-4 que inaugurou a nova rota dos TAP para Roma (aeroporto de Ciampino) e a 12 de Março de 1954 realiza a 1ª e única viagem experimental a África pelo Deserto, seguindo por Oudja, Aoulef e Gao, em vez da normal rota pela linha de costa. Esta viagem foi efectuada em Março, com a duração de 10 dias, com o DC-3 CS-TDG. Tinha por objectivo preparar o início da operação da Linha Aérea Imperial em DC-4 (apesar de efectuada em DC-3) pela rota do deserto.

A ele coube igualmente realizar a 10 de Abril de 1954 o 1º voo da Linha Aérea Imperial em DC-4 com o CS-TSD e a 30 de Março de 1955 a viagem experimental ao Brasil no CS-TSC, transportando como convidado especial o Almirante Gago Coutinho, na altura com 86 anos, que trinta e três anos antes tinha realizado com Sacadura Cabral a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. No percurso Sal - Recife a 31 de Março, foi efectuada uma passagem baixa e o lançamento de flores sobre os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, local onde se tinha afundado o hidroavião utilizado na 2ª tentativa de travessia aérea atrás mencionada. Quando em Dezembro de 1953, a primeira administração da nova TAP S.A.R.L, depois da transformação do anterior serviço público designado por Transportes Aéreos Portugueses, se apressou a promover um estudo visando a remodelação da frota da empresa, com vista a poder oferecer um serviço de transporte aéreo moderno, de qualidade e compatível com as necessidades crescentes da linha de África, onde ainda operava com o velho e obsoleto Dakota, Enrique Maya fez parte da comissão que definiu a aquisição do Super Constellation. A ele se ficou a dever a adaptação dos painéis de instrumentos do seu cockpit aos parâmetros da TAP (instrumentação básica igual para Comandante e Copiloto), que viria mais tarde a generalizar-se na aviação comercial em todo o mundo.

Foi ele o mentor de toda uma nova filosofia operacional então adoptada.

Em 1954 na Holanda e sob os auspícios da KLM participa no curso “Zero Radar”, com a finalidade de introduzir na TAP os princípios para a futura utilização deste equipamento na aviação comercial. No verão de 1955 frequenta na Curtiss Wright (fabricante dos motores) e na Lockheed em Burbank (Califórnia), os cursos necessários à operação deste novo equipamento da TAP. Os dois primeiros Super Constellation chegam a Lisboa a 8 de Agosto de 1955. Voaram em formação desde Burbank, escalando Nova Iorque (aeroporto de Idlewild) e Santa Maria, atravessando todo o Atlântico em voo muito próximo um do outro. O CS-TLA trazia aos comandos Enrique Maya. O 3º avião, CS-TLC, chegaria a Lisboa a 19 de Setembro foi igualmente pilotado por ele. Em 1958 passa finalmente à reserva na Força Aérea, com o posto de Major Piloto-Aviador.

Quando no final de 1961 a TAP decide encomendar os três Caravelle VI-R da Sud-Aviation para as suas rotas Europeias, Enrique Maya foi um dos elementos chaves para a sua definição operacional. O painel de pilotagem deste avião foi minuciosamente e criteriosamente desenhado por ele, único entre todas as companhias aéreas que o operaram, ficando conhecido na Sud Aviation por “Cockpit Maya”.

Coube-lhe a ele comandar o voo de entrega do segundo Caravelle, o ‘Damão’ a 25 de Julho de 1962 para Lisboa escalando o Aeroporto do Porto, transportando convidados portugueses e estrangeiros para a cerimónia de inauguração da ampliação da pista deste aeroporto, que decorria ocorria nesse dia. A 28 de Novembro de 1962 coube-lhe a ele igualmente o voo de entrega da terceira unidade Caravelle encomendada, o CS-TCC ‘Diu’.

Em 1965 é qualificado em comando no Boeing 707, avião que a TAP adquire para as ruas rotas de longo curso.

De forma a corresponder ao grande aumento de tráfego existente nas linhas de África é decidido pela TAP em 1972 a encomenda do Boeing 747-200, os célebres “Jumbo”. Nesse ano vai para os Estados Unidos onde o espera o curso do novo avião e a 8 de Junho de 1974 cabe a Enrique Maya voar directamente de Seattle no voo de entrega do 3º avião, o CS-TJC “Luis de Camões”. Por força das directivas emanadas pela ICAO visando o limite de idade de 60 anos para os pilotos de linha aérea, deixa de voar em Fevereiro de 1978, com 61 anos de idade. Era o culminar de uma longa carreira ao serviço da companhia aérea que muito lhe ficou a dever. Quando das comemorações do 40º aniversário da TAP em 1985, foi realizada uma justa homenagem ao Comandante Enrique Maya (funcionário TAP 271) como verdadeiro mentor da renovação doutrinária das Operações de Voo da empresa. Em 1985 é agraciado com a Medalha de Mérito Santos-Dumont pelas autoridades brasileiras, pelo seu importante papel na aviação.

Faleceu a 13 de Julho de 1988 em Lisboa, sendo considerado por muitos como um dos verdadeiros decanos da Aviação Comercial em Portugal.

Muito mais haverá por dizer do Comandante Maya como era conhecido pelos seus pares, tendo-lhe sido prestada justa homenagem quando Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o seu nome a uma rua de Benfica, Rua Comandante Enrique Maya.»

Mena

5 comentários:

Anónimo disse...

Um Homem que merece todas as homenagens e elogios.Gostei de conhecer toda a sua carreira de que só conhecia uma pequena parte. Parabéns à Mena e ao resto da família pelo Pai e Avô que tiveram.
Luisa

bettips disse...

Um documento de vida admirável!

Justine disse...

É uma biografia de peso, Mena. Tens toda a razão para teres orgulho no teu pai.

M. disse...

Importante saber os pormenores das inovações que foram sendo implementadas na aviação. Um homem activo merecedor de apreço.

Licínia Quitério disse...

Filha justamente orgulhosa do seu Pai que fez história na Aviação Civil em Portugal. Abraço, querida Mena MAYA.