quarta-feira, janeiro 31, 2024

4. Licínia



Falava com a raiva enrolada ao pescoço

e as vogais eram surdas

quando dizia os nomes os lugares as datas

as mãos em punho que punhais não lhe deram

as faces polvilhadas pelo sal do choro que secara

agitava o corpo

e as pregas da saia ondeavam em fúria

cavalos-marinhos prendiam-lhe os cabelos

e dálias de fogo brotavam-lhe dos seios

os pés esmagavam cactos

e sangue e seiva se entendiam

era uma dor soberba

a da mulher dos sonhos violados

às vezes ria

Licínia

(A foto é do cartaz da exposição sobre Frida no CCB em 2006)

4 comentários:

mena maya disse...

Igualmente penetrantes as tuas palavras, Licínia.

M. disse...

Uma pintura belíssima bem acompanhada pelas tuas palavras.

Anónimo disse...

Gostei do teu texto mas não me convence a olhar para tais pinturas
LUISA

Justine disse...

Retrato pleno e correcto que dela fizeste!