HELENA
Foi um prazer tão fundo
ter-te conhecido.
De ti sabia vagamente as linhas,
as janelas de prédios em ruas labirinto,
com lugar para um cravo ou um rosto
envergonhado por trás de um cortinado.
Mas hoje vi-te
e os meus olhos ganharam a garra
que dos teus se desprendia.
E já não era eu, mas tu, Helena,
que em mim se revelava.
Abri os livros das bibliotecas
e encharquei-me de vidas e de mundos.
Contigo percorri cidades,
subi escadas, desci cordas,
atravessei fronteiras, dobrei esquinas
da memória finalmente desperta.
E os teus olhos, Helena, que viram
para além do que havia para ver.
E as tuas mãos a semear
as cores, os traços, os volumes,
o infinito que, suponho,
só pudeste pensar com pessoas por dentro.
Que sorte a minha quando te encontrei
no metropolitano acabado de pintar.
Licínia
(Junho de 2004, escrito a pensar na exposição sobre Vieira-Arpad que acabara de ver na Casa Arpad Szenes)
5 comentários:
Palavras muito fortes a projectarem em nós o que sentiste tão vivamente. Bem entendo o teu entusiasmo. Ganha-se vida quando assim acontece.
Lindo, o sentimento vertiginoso da arte que descreves tão bem!
Fiz aqui um comentário que não aparece!
Enfim...
Muito belo o sentimento poético que te despertou a visita.
O teu poema tem ritmo e beleza, que retratam as pinturas-poemas de VdS. O teu poema dá-se muito bem ao lado da pintura de VdS
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