domingo, setembro 03, 2006

Excertos de "Memórias de Adriano", de Margueirte Yourcenar

«As minhas cidades nasciam de encontros: o meu com um pedacinho de terra, o dos meus planos de imperador com os incidentes da minha vida de homem.»

***

«Os meus contactos com as artes bárbaras levaram-me à conclusão de que cada raça se limita a certos assuntos, a certos modos entre os modos possíveis; cada época faz ainda uma selecção entre as possibilidades oferecidas a cada raça.»

***

«Empenhei-me primeiro em fazer fixar pela estatuária a beleza sucessiva de uma forma que se transforma; a arte tornou-se em seguida uma espécie de operação mágica capaz de evocar um rosto perdido.»

***

«Contava desesperadamente com a eternidade da pedra, a fidelidade do bronze, para perpetuar um corpo perecível, ou já destruído, mas insistia também para que o mármore ungido todos os dias com uma mistura de óleo e ácidos adquirisse a vida e quase a macieza de uma carne jovem.»

***

«A memória da maior parte dos homens é um cemitério abandonado, onde jazem, sem honras, mortos que eles deixaram de amar. Toda a dor prolongada insulta o seu esquecimento.»

***

«Sabia bem que este pequeno vale plantado de oliveiras não era Tempe, mas chegara à idade em que cada lugar belo lembra um outro mais belo, em que cada delícia se agrava com a lembrança de delícias passadas. Aceitava entregar-me aquela nostalgia que é a melancolia do desejo.»

***

«Se ainda não disse nada sobre uma beleza tão visível não se deve ver nisso a espécie de reticência de um homem completamente conquistado de mais. Mas os rostos que procuramos desesperadamente escapam-nos: nunca é mais que um momento …»

1 comentário:

Licínia Quitério disse...

Não é que ando a reler esse livro? Delicioso.