Belíssima fotografia que a Justine nos oferece para que nos sirva de inspiração.
quinta-feira, maio 31, 2012
AGENDA PARA JUNHO DE 2012
Dia
7 - Provérbios
Fotografados:
«Remenda
o teu pano, chegará para o ano. Torna a remendar, tornará a chegar»
(sugerido pela Jawaa)
Dia
14
– Reticências
com
a frase “Entretenho-me
a espreitar”
a iniciar o texto
Dia
21 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia de Justine
Dia
28
- Fotografando
as palavras de outros sobre
este excerto belíssimo de um livro delicioso:
«O senhor Soares
percorre as áleas do Jardim da Estrela, o qual se estende como o
fantasma de um parque antigo, dos séculos antes do descontentamento
da alma. E enquanto os cisnes deslizam no espelho de água o senhor
Soares, contemplando-os com os olhos semifechados por detrás das
lentes, magica numa quermesse em que participam columbinas e pierrots
e arlequins. Observa a criança que apanhou um tabefe da mãe por ter
desejado mais um caramelo, e compadece-se do choro desabalado, vendo
nele a metáfora da condição de todos nós, ambiciosos de uma cor
inatingível, e do paladar que lhe corresponde. O senhor Soares
repara agora no soldado que passa o braço pelos ombros da criadita
no banco que fica à beira do canteiro de gladíolos, e inventa o
teor das cartas que os dois se trocam ao longo das semanas, e nas
quais se tratam por «meu adorado amor», «minha vida», e «riqueza
do meu coração». O senhor Soares leva os sapatos ligeiramente
cambados, a dobra das calças surradas pelo pó, e o cabelo ao léu,
mal lambido pela brilhantina. Aproxima-se de uma rapariga de
expressão azougada, uma dessas moreninhas que gostam de exteriorizar
uma certa malícia, simbolizada pela vírgula do penteado que se lhes
cola à testa. E tudo isto se mistura na minha visão, não sei bem
porquê, com um romance ancestral, em cujas linhas intervêm Hamlet e
Ofélia, heróis do grande Shakespeare, que só conheço de ouvir
falar. (...)»
Boa
noite, senhor Soares,
Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, 2008
O DESAFIO DESTA SEMANA
A resposta aí está:
Quinze interessantes interpretações dos excertos retirados do livro D.
Quixote de La Mancha,
(Versão de Aquilino Ribeiro), Miguel de Cervantes Saavedra, Bertrand
Editora.
quinta-feira, maio 24, 2012
AGENDA PARA MAIO DE 2012
Dia
31
- Fotografando
as palavras de outros sobre
alguns excertos do livro D.
Quixote, que
li há alguns anos com enorme prazer e um permanente sorriso nos
lábios. Desta vez o texto proposto é um pouco mais longo do que o
habitual mas foi-me difícil resistir a tamanha graça de pormenores
e de ironia que a leitura do livro me ofereceu. Independentemente
de complicar a resposta, claro, mas há que correr riscos. Para que
os riscos outros que nos ensombram os dias sejam de algum modo assim
atenuados.
«Em certo lugar da
Mancha, o nome amanhã o direi, vivia não há grandes anos um
fidalgo, destes velhos fidalgos de lança em armeiro, adarga antiga,
pileca à manjedoira e galgo corredor. Bons três quartos do
rendimento gastava-os no comer: cozido, obrigado mais vezes a vaca do
que a carneiro, com o infalível empadão dos sobejos à ceia, uma
fritada de ovos com miúdos e toicinho aos sábados, lentilhas às
sextas, e o seu borracho extra uns domingos por outros. O resto ia-se
no vestir: saio de velarte e calças de veludilho com pantufos do
mesmo pano nos dias santos; a cote, saragoça, embora da mais fina.
Tinha em casa uma
governanta, mais que quarentona, uma sobrinha que ainda não
completara vinte anos, e um moço para todo o serviço, que largava o
podão e ia selar-lhe o rocim. O nosso fidalgo andava à beira dos
cinquenta. Era rijo de têmpera, seco de carnes, rosto esfalcado,
grande madrugador e amigo de montear. (…)
Antes de ir mais longe
é preciso que se saiba que este fidalgo, sempre que estava ocioso, e
era a maior parte dos dias na roda do ano, ocupava-se em ler livros
de cavalaria com tanto afinco e regalo que descurou quase totalmente
o exercício da caça e o governo da fazenda. (…)
Em suma, o nosso
fidalgo embebeu-se tanto na leitura, que levava as noites a ler,
desde lusco-fusco a lusco-fusco (…) E assim, de pouco dormir e
muito ler, aconteceu ressecarem-se-lhe os miolos e toldar-se-lhe de
todo o juízo.
Povoou-se-lhe a
fantasia com tudo o que lia nos romances, encantamentos, pendências,
batalhas, desafios, lanhos dados e recebidos, requebros, amores,
tormentos e disparates impossíveis.»
Capítulo I
***************************
«Nisto descobriram os
trinta a quarenta moinhos de vento que há naquelas paragens. Mal D.
Quixote deu com os olhos neles, disse para o escudeiro:
- Estamos com sorte,
muito mais sorte do que aquilo que podíamos desejar. Abre-me os
olhos e repara... repara-me para aqueles trinta e tantos desaforados
gigantes! Vou-me a pelejar com eles e tirar-lhes a vida. (…)
- Atente bem, Vossa
Mercê. O que se descortina além fora não são gigantes, mas
moinhos de vento. E o que parecem braços não são senão as velas
que, sopradas pela aragem, fazem girar as mós. (...)
E
assim animado, encomendando-se do fundo do coração à sua senhora
Dulcineia para que lhe valesse naquele transe, bem abroquelado com a
rodela, lança em riste, arremeteu a galope dobrado do Rocinante
contra o moinho que lhe ficava
em face. No mesmo instante mesmo a vela recebia tão furioso açoite
do vento que lhe fez a lança em pedaços e, arrastando cavalo e
cavaleiro, atirou-os de escantilhão pelo campo fora. Sancho Pança
picou o burro na pressa de lhe acudir. O amo estava estatelado
debaixo do cavalo, incapaz de qualquer movimento.»
Capítulo VIII
D.
Quixote de La Mancha,
(Versão de Aquilino Ribeiro), Miguel de Cervantes Saavedra, Bertrand
Editora
"Fotodicionário", o desafio desta semana
"Renovação" foi a palavra inspiradora das 14 imagens desta semana abaixo expostas que, como habitualmente, têm o cunho de cada um dos seus autores. E, pelos vistos, ao meu rebelde computador agradou a proposta pois portou-se à altura da sua própria renovação interior permitindo que eu publicasse o que me apetecia. Espero então que a ela se acomode. Ou que seja coerente e continue a comportar-se de acordo com a escolha feita.
M
M
quarta-feira, maio 23, 2012
Por causa da avaria do meu computador, que me obrigou a publicar antecipadamente os textos do desafio da semana passada, só hoje posso mostrar-vos como a Benó sentiu a fotografia da Jawaa
Água presa, coalhada, numa represa.
Na brancura do gelo em degelo marca-se o tempo da primavera a chegar. É suave a temperatura, quente a esperança de deleitosos banhos, ao longe o infinito azul e a lagoa quieta e lisa irá transbordar quando a o sol aquecer e o gelo derreter.
Benó
quarta-feira, maio 16, 2012
AGENDA PARA MAIO DE 2012
Dia
24 - Fotodicionário
com
a palavra “Renovação”
escolhida pelo Zé-Viajante
***************************************************
Entretanto, o meu computador, que está a portar-se mal, vai fazer uns exames, pelo que não faço ideia durante quanto tempo estaremos ausentes.
No entanto, podem ir enviando as vossas participações. Espero que o meu mail as guarde e depois mas entregue.
M
O DESAFIO DESTA SEMANA
Foi nesta belíssima fotografia da Jawaa que nos inspirámos para responder, com palavras nossas, ao desafio Com as palavras dentro do olhar.
***********************************************
***********************************************
Peço desculpa se, já depois das publicações de hoje, antecipadas pelas razões que mais abaixo vos dei, chegarem mais textos. O mais que poderei fazer é publicá-los quando o computador regressar ao nosso convívio.
M
13. Zé-Viajante
"Promoção
da semana-Viagens"
T0
em excelente localização. Mar à vista.
Programas
de escalada, pesca à linha e natação na lagoa de sonho.
Pista
de gelo natural.
Preço
imbatível:grátis.
BASTA
SONHAR!
Zé-Viajante
12. Zambujal
Procuram-se as
palavras dentro do olhar. Dentro do que o olhar vê dentro da
fotografia.
Amplia-se a foto
para melhor observar o pormenor.
Entra-se no que
estaria inexistente ou fechado ao olhar. Como aquele portão ao
fundo. A dar para onde? E aquela espécie de torre branca, e o carro,
no canto à direita, a fazer a curva. E os postes de electricidade a
descerem a encosta, pela esquerda, a dizerem-nos que é tudo muito
maior do que ao primeiro olhar, à primeira procura de palavras.
Tudo ganha, sempre,
outra vida, outros contornos. Os caules e as pedras. As ervas como
que despenteadas… Teriam de ser outras palavras para um aparente
mesmo olhar para uma bela fotografia.
Só se mantém as
cores. Os azuis diferentes. Os verdes. Porque assim são em qualquer
tamanho, porque assim os queremos.
Zambujal
11. Teresa Silva
Uma
bela fotografia. Ambiente calmo em harmonia monocromática, onde os
azuis se desenham e entrelaçam por entre as rochas e alguma
vegetação. O mar ao fundo vai entrando ao sabor das marés, sem
ruído... E na pequena casa, alguém mora?
Teresa Silva
10. Rocha/Desenhamento
A
legenda que me ocorreu para um dos meus blogues foi a seguinte: «a
palavra pensa a imagem». E aqui reside uma infinidade de caminhos que
convocamos da realidade ou da memória dela. Os nossos olhos estão
cheios de imagens, isto é, de palavras — e as palavras dizem,
deste ou
daquele modo, a imagem. Uma imagem eventualmente como esta: paisagem
de teor marinho, contrafortes rochosos formando um cenário aberto ao
mar e um mar que vem ao nosso encontro, pela maré alta, enchendo de
espuma e de água o sítio que reflecte o céu. Apetece avançar.
Saber a temperatura da lagoa assim formada e decidir se nos apetece
mergulhar ali ou contemplar, um pouco à frente do enquadramento
fotográfico, o real a palpitar. A fotografia pode ser vista assim,
tão naturalmente como ela e tão serena e bela como nos povoa pela
percepção.
Rocha
de Sousa
9. ~pi
viagem
à terra amada
estou aqui e não sou nada senão
quando o meu corpo se abre - mansamente
como animal húmido de praias
estou aqui: na maciez redonda desse lago original
sou a pedra alveolar de renascer
espreguiço a nudez estonteada desta ilha
onde cheguei deslizando
há muito tempo - antes de ser flor
ao colo tépido do vento
sem ponta de atraso
sem qualquer acaso
estou aqui e não sou nada senão
quando o meu corpo se abre - mansamente
como animal húmido de praias
estou aqui: na maciez redonda desse lago original
sou a pedra alveolar de renascer
espreguiço a nudez estonteada desta ilha
onde cheguei deslizando
há muito tempo - antes de ser flor
ao colo tépido do vento
sem ponta de atraso
sem qualquer acaso
~pi
8. Mena M.
Todo
o santo dia sozinha no céu, a cabeça já tão cheia
dos
pensamentos e ideias que não podia trocar com ninguém.
E
o calor apertava cada vez mais à medida que a tarde crescia.
Os
olhos já cansados de percorrer o horizonte, pousaram na terra.
Nem
podia acreditar no que via, uma outra nuvem repousava na superfície
azul.
De
coração sobressaltado não resistiu a descer e pousar junto dela.
Tão
cega de fascínio que nem viu que a outra não era mais
que
a sua imagem reflectida na água.
E
assim se derreteu, sem ter a possibilidade de voltar a elevar-se.
Devastadoras
as atracções fatais!
Mena
7. M.
Sentei-me
numa das pedras a sentir o silêncio da paisagem. Relativamente perto
de mim, junto de uma senhora que presumi ser sua mãe, um menino
segurava nas mãos pequeninas um cone de gelado de baunilha que ora
lambia ora trincava, absorto no prazer do momento.
Achei-lhe
graça e espreitei-o de vez em quando, curiosa. A certa altura
reparei que chorava, lágrimas tristes escorrendo dos seus olhos de
um azul profundo.
Deixei
cair o gelado na água, mamã, e agora está todo derretido.
A
mãe acariciou-lhe demoradamente os cabelos e aconchegou-o a si.
Não fiques triste, meu querido.
Olha!
Transformaste
o teu gelado numa raia enorme.
És
um artista!
O
menino olhou para a mãe, olhou para o lago, e assim permaneceu
durante alguns minutos, como que suspenso nos seus pensamentos.
Depois sorriu e disse: Parece
a raia do Oceanário de Lisboa!
M
5. Licínia
Nada
a fazer quando os olhos se perdem na liquidez dos azuis. Somos
Tântalo e o seu martírio. Somos as pedras e a sua persistência de
parideiras de outras pedras. Somos também as ervas de todas as
estações. Só o céu sabe do regresso das águas a matar a grande
sede.
Licínia
4. Justine
Não,
a paisagem não consegue serenar-me. O meu espírito, obstinado,
recusa-se a seguir o olhar até ao infinito do horizonte. O olhar
retrocede até às pedras, e vejo nelas a dureza da vida e a falta de
sentido da morte. A minha tristeza, teimosa, inventa nuvens no céu
límpido e no lago colorido.
Não, a paisagem não consegue serenar-me. Sou eu que, sem querer, perturbo a paisagem.
Não, a paisagem não consegue serenar-me. Sou eu que, sem querer, perturbo a paisagem.
Justine
2. Bettips
Com
as palavras dentro do olhar, tentava perceber mas a miragem
continuava. Calcei as sapatilhas mentais e fui pelas pedras adiante
para tocar o oásis: quem sabe se de gelo, de nuvens ou onde morrem
os cisnes e deixam as penas brancas a flutuar.
Queria bem que não fosse uma mancha de espuma poluidora.
Mas teria de ir colher certezas quando a paisagem apenas me sugeria, e eu procurava, Beleza.
Queria bem que não fosse uma mancha de espuma poluidora.
Mas teria de ir colher certezas quando a paisagem apenas me sugeria, e eu procurava, Beleza.
Bettips
terça-feira, maio 15, 2012
PLEASE...
A quem ainda não me enviou o texto para o desafio desta semana pergunto se vos será possível fazer-mo chegar o mais rapidamente possível, de preferência até hoje à noite, para que possa publicá-los o mais tardar até amanhã de manhã.
O meu computador está outra vez com acessos azuis de raiva e quero levá-lo a arranjar antes que expire a garantia.
Obrigada.
M
O meu computador está outra vez com acessos azuis de raiva e quero levá-lo a arranjar antes que expire a garantia.
Obrigada.
M
segunda-feira, maio 14, 2012
INFORMAÇÃO
Da Isamar, nossa companheira de desafios no PPP, embora há já algum tempo que não participe, recebi este mail que partilho convosco:
«Aqui envio o catálogo de alguns dos produtos que confeciono e que divulgo aqui no meu blog, www.lafeltropedras.blogspot.com
Caso esteja interessado, não hesite em entrar em contacto comigo.
Para quem for de fora de Lisboa, não paga os portes de envio.
Se puder, divulgue pelos seus amigos.
Isamar»
«Aqui envio o catálogo de alguns dos produtos que confeciono e que divulgo aqui no meu blog, www.lafeltropedras.blogspot.com
Caso esteja interessado, não hesite em entrar em contacto comigo.
Para quem for de fora de Lisboa, não paga os portes de envio.
Se puder, divulgue pelos seus amigos.
Isamar»
quinta-feira, maio 10, 2012
AGENDA PARA MAIO DE 2012
Dia
17 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
esta belíssima fotografia da Jawaa. Inspiremo-nos nela.
15. Zé-Viajante
Ao olhar para cima vejo uma cabine, pequena, dada a distância. O céu e nada mais.
No entanto, se olhar melhor, naquela cabine, a uma altura incrível, esteve um (ou vários) trabalhadores. Se calhar longe da família durante quase dois anos. Arriscando a vida, pois mesmo com todas as "normas habituais" há acidentes. Parece que correu tudo bem. Daquela obra (acrescentar um bloco a uma clínica privada) ficaram dezenas de fotos da grua. Talvez um dia apareçam por aí...
No entanto, se olhar melhor, naquela cabine, a uma altura incrível, esteve um (ou vários) trabalhadores. Se calhar longe da família durante quase dois anos. Arriscando a vida, pois mesmo com todas as "normas habituais" há acidentes. Parece que correu tudo bem. Daquela obra (acrescentar um bloco a uma clínica privada) ficaram dezenas de fotos da grua. Talvez um dia apareçam por aí...
Zé-Viajante
14. Zambujal
Ao olhar para cima...
Ao olhar para cima,
senta-te e, depois,
deixa-te cair de costas sobre a relva,
como se fosse para dormir uma sesta.
senta-te e, depois,
deixa-te cair de costas sobre a relva,
como se fosse para dormir uma sesta.
Abre as pernas e os braços,
atira os olhos para cima,
vê os ramos nus e alguns a florirem,
e chegarás ao azul.
… mas – atenção! – agarra-te bem,
finca as mãos na terra
… não vás tu cair no céu.
atira os olhos para cima,
vê os ramos nus e alguns a florirem,
e chegarás ao azul.
… mas – atenção! – agarra-te bem,
finca as mãos na terra
… não vás tu cair no céu.
(como o Saramago acautelava, numa novela de há muitas décadas)
Zambujal
13. Teresa Silva
Ao olhar para cima, para o céu, vejo nuvens negras que avançam rapidamente, trazidas por ventos fortes. Serão consequência de um anti-ciclone, de uma depressão, de uma superfície frontal? Seja qual for a causa, os efeitos aí estão...
Teresa Silva
12. Rocha/Desenhamento
… Ao olhar para cima os meus olhos foram tocados pela luz que vinha do alto da casa em ruínas: era uma manhã abençoada que talvez pudesse redimir aquele espaço desfeito, um balde velho, de lata, abandonado entre pedras soltas da parede aberta à claridade solar.
Rocha/ Desenhamento
11. ~pi
ao olhar para cima vi primeiro o Deus antigo
que me oferecia mansos burrinhos de atravessar os caminhos enlameados
e beber em lagos coroados de miúdas, doces flores sem cardos.
punha-me a sonhar e logo a sarça ardente voltava e dizia logo Deus:
Não deixes essa vela acesa, basta-me a luz de quando dormes
basta o som do teu respirar.
as crianças obedecem a deuses lá de cima porque lhes disseram que eles sabem da nossa impossibilidade, crónica e inexpugnável de crescer... e sabem ainda,
que não merecemos o colo do baloiço, aquele onde o cruzar dos braços nos raios é um milagre.
sempre quis, ao olhar para cima, e, por vezes, para baixo também, que Deus me aparecesse
como um reconhecível veado, en passant e sem ligar muito
a coisas grandes ou, à gente que passava ou aos pomares ou aos barcos que apitavam urgências.
mas deus envelhecera, perdera cabelo e compostura e dentes e delicadeza, coitado, e ali o via
a segurar as vestes em burel e linho muito áspero com ar lúbrico e saloio meio disfarçado.
perguntei onde andam os designers de deus, encolheu os ombros em gesto perdido e muito atrasado...
ía soprando o seu vento de falsete - seria o Santo Espírito? - e continuava descalço e olhava as raparigas e os belos rapazes, a querer comungá-los a todos e eles assustavam-se, porque eram da aldeia, se fossem da cidade apenas perguntariam se tinha dinheiro, mas Deus não sabia tal.
eu tinha a missão idiota de tomar conta de Deus que queria ser um deus-machine e chicklet,
perdido de si e perdido do Pai, a Deus bastava ali um telemóvel para gerir o imenso mercado das carnes
Atravessava uma crise este Deus de muitos anos, ocorreu-me que pudesse morrer até de novo.
desta vez assassinado outra vez, e sem evangelhos ou cruzes ou sentidos maiores para serem contados-.
que me oferecia mansos burrinhos de atravessar os caminhos enlameados
e beber em lagos coroados de miúdas, doces flores sem cardos.
punha-me a sonhar e logo a sarça ardente voltava e dizia logo Deus:
Não deixes essa vela acesa, basta-me a luz de quando dormes
basta o som do teu respirar.
as crianças obedecem a deuses lá de cima porque lhes disseram que eles sabem da nossa impossibilidade, crónica e inexpugnável de crescer... e sabem ainda,
que não merecemos o colo do baloiço, aquele onde o cruzar dos braços nos raios é um milagre.
sempre quis, ao olhar para cima, e, por vezes, para baixo também, que Deus me aparecesse
como um reconhecível veado, en passant e sem ligar muito
a coisas grandes ou, à gente que passava ou aos pomares ou aos barcos que apitavam urgências.
mas deus envelhecera, perdera cabelo e compostura e dentes e delicadeza, coitado, e ali o via
a segurar as vestes em burel e linho muito áspero com ar lúbrico e saloio meio disfarçado.
perguntei onde andam os designers de deus, encolheu os ombros em gesto perdido e muito atrasado...
ía soprando o seu vento de falsete - seria o Santo Espírito? - e continuava descalço e olhava as raparigas e os belos rapazes, a querer comungá-los a todos e eles assustavam-se, porque eram da aldeia, se fossem da cidade apenas perguntariam se tinha dinheiro, mas Deus não sabia tal.
eu tinha a missão idiota de tomar conta de Deus que queria ser um deus-machine e chicklet,
perdido de si e perdido do Pai, a Deus bastava ali um telemóvel para gerir o imenso mercado das carnes
Atravessava uma crise este Deus de muitos anos, ocorreu-me que pudesse morrer até de novo.
desta vez assassinado outra vez, e sem evangelhos ou cruzes ou sentidos maiores para serem contados-.
~pi
9. Mena M.
Ao olhar para cima...33-32
35-36-34!
Porque é que as
árvores têm números,
perguntou o
menino.
Para o carteiro
poder entregar as cartas aos passarinhos,
respondeu-lhe o
tio.
Os luxos de um
condomínio fechado com vista para o lago,
pensei eu!
Mena
8. M.
Ao olhar para cima vi-os. Estavam à beira da estrada florestal, empoleirados entre a terra e o céu, desmembrados os corpos, negro o silêncio de gritos sem nome esvaindo-se dentro das bocas escancaradas. Medonha, desajustada e desumana esta presença pesada de materiais amassados devorando a pureza de uma mata belíssima onde espreitam coelhos e lebres entre as fragrâncias do arvoredo e o canto dos pássaros pousa leve sobre as giestas em flor.
M
7. Luisa
Ao olhar para cima vê-se que o Mundo teima em entrar em todas as casas, mesmo as mais modestas.
Luisa
6. Licínia
Ao olhar para cima, sinto que a torre me prolonga, faz comigo corpo e, eu
com ela, tocamos o céu. No cume, um anjo de oiro sorri.
Licínia
5. Justine
Ao olhar para cima, penso nos obstáculos que o Homem, com a sua inteligência, tem superado ao longo dos tempos. Mas não esqueço as pequenas coisas essenciais que o Homem, com a sua estupidez, deixou por fazer…
Justine
4. Jawaa
Ao olhar para cima percebi que havia um outro mundo a descobrir... não sabia era que isso me custaria um braço partido, o que - diga-se de passagem - não é mesmo nada agradável!
Jawaa
3. Bettips
Ao olhar para cima... pensei e vi que surgia o bom tempo. Lá estavam as roupas a arejar do tempo fechado, as vidas a renovar-se, a remover-se.
E quem debaixo dos cobertores esteve, muito provavelmente abriu os olhos e sorriu ao azul.
Eu... esperei que não me caíssem na cabeça mas afastei-me também a sorrir: era ABRIL!
Bettips
2. Benó
Ao olhar para cima, nariz empinado, mão nas cruzes, por causa das
dores na espinha, a ti’Anica esperava que a lua aparecesse enorme,
maior que eu sei lá o quê, mesmo ali por cima do campanário. Segundo
lhe tinham dito na mercearia, naquele primeiro dia de lua cheia,
poder-se-ia até ver aquela velha curvada, carregando o fardo de feno,
tão pertinho da terra, que se piscássemos o olho ela até era capaz de
rir.
Andavam umas nuvens cinzentas pelo céu a se pavonearem, mas a ti’Anica
acreditava que a lua de tão grande que era, seria suficientemente
forte para as afastar. A ti’Anica teve sorte. A lua apareceu, redonda, prateada, brilhante e com um sorriso doce que encantou a ti’Anica.
Benó
domingo, maio 06, 2012
VOLTEI
Felizmente a crise de afirmação de personalidade do meu computador resolveu-se a bem e estamos ambos de volta. Um vírus, foi-me dito. E não tive que desembolsar nenhum euro. Como estava dentro da garantia em relação à última intervenção que sofreu e é uma cliente antiga, fizemos uma atenção... Infelizmente, respondi-lhes eu. (Não podo em causa a minha saúde, claro, que espero esteja também coberta por alguma garantia.)
M
M
quinta-feira, maio 03, 2012
AVISO
O meu computador está com uma crise de afirmação de personalidade. Imaginem que recusa fechar-se quando lhe dou ordem de descanso. Deve ficar azul de raiva porque polvilha-me o ecrã com letras brancas sobre azul celeste e insiste na teimosia pelo menos duas vezes até que me zango e o forço a obedecer-me. Passei estes últimos dias com o credo na boca, receosa de que se zangasse de vez comigo e me impedisse de publicar as nossas fotografias.
Amanhã tenciono levá-lo à vistoria de quem lhe conhece as entranhas. Não sei se demorará muitos dias ou se o suposto problema se resolverá com rapidez, por isso não estranhem o meu silêncio.
Entretanto, podem ir mandando os vossos textos para a próxima semana. Ficarão guardados no mail até que o computador regresse às minhas mãos.Até lá.
Fiquem bem.
M
quarta-feira, maio 02, 2012
"PROVÉRBIOS FOTOGRAFADOS", o desafio desta semana
«A luz onde está, logo aparece»
Foi este o provérbio escolhido para nos provocar o olhar.
Julgo que ele terá ficado satisfeito com a resposta, não acham?
M
M
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