Dia
7 - Provérbios
Fotografados:
«Remenda
o teu pano, chegará para o ano. Torna a remendar, tornará a chegar»
(sugerido pela Jawaa)
Dia
14
– Reticências
com
a frase “Entretenho-me
a espreitar”
a iniciar o texto
Dia
21 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia de Justine
Dia
28
- Fotografando
as palavras de outros sobre
este excerto belíssimo de um livro delicioso:
«O senhor Soares
percorre as áleas do Jardim da Estrela, o qual se estende como o
fantasma de um parque antigo, dos séculos antes do descontentamento
da alma. E enquanto os cisnes deslizam no espelho de água o senhor
Soares, contemplando-os com os olhos semifechados por detrás das
lentes, magica numa quermesse em que participam columbinas e pierrots
e arlequins. Observa a criança que apanhou um tabefe da mãe por ter
desejado mais um caramelo, e compadece-se do choro desabalado, vendo
nele a metáfora da condição de todos nós, ambiciosos de uma cor
inatingível, e do paladar que lhe corresponde. O senhor Soares
repara agora no soldado que passa o braço pelos ombros da criadita
no banco que fica à beira do canteiro de gladíolos, e inventa o
teor das cartas que os dois se trocam ao longo das semanas, e nas
quais se tratam por «meu adorado amor», «minha vida», e «riqueza
do meu coração». O senhor Soares leva os sapatos ligeiramente
cambados, a dobra das calças surradas pelo pó, e o cabelo ao léu,
mal lambido pela brilhantina. Aproxima-se de uma rapariga de
expressão azougada, uma dessas moreninhas que gostam de exteriorizar
uma certa malícia, simbolizada pela vírgula do penteado que se lhes
cola à testa. E tudo isto se mistura na minha visão, não sei bem
porquê, com um romance ancestral, em cujas linhas intervêm Hamlet e
Ofélia, heróis do grande Shakespeare, que só conheço de ouvir
falar. (...)»
Boa
noite, senhor Soares,
Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, 2008
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