quinta-feira, junho 28, 2018

UM EXTRA DO ZAMBUJAL PARA ACABARMOS BEM A TEMPORADA

Junto duas respostas de “alunos” da Universidade Sénior de Ourém na disciplina (indisciplinadíssima…) Oficina de escrita e leitura, onde falo do PPP, e ao desafio para trabalho de casa; relativamente ao texto de Celeste Pastilha tive de passar ao computador o manuscrito e dar umas “limadelas”, quanto ao do Eduardo Graça nem procurei corrigir as imprecisões que ele próprio detectou ao ler (pedra do em vez de no sapato… e talvez devesse dizer-se pedras em pés descalços!).
Claro que, se te parecer interessante, poderás publicar esta breve explicação e os textos, o que seria uma excelente surpresa para os autores.

Zambujal

O ALFAIATE DA PEDRA NO SAPATO

Conta-se na minha aldeia que ali perto viveu, há muitos anos, uma modesta família de agricultores. Tinha cinco filhos, quatro deles deficientes e incapazes de ajudarem os pais nas lidas do campo, de onde lhe vinha a subsistência, e só o mais novo ajudava nessas lidas.
Os outros filhos, três raparigas e um rapaz, foram ajudados a aprender profissões que pudessem exercer sentados porque as suas limitações eram nos membros inferiores, talvez causadas pela terrível doença que então atingia tantas crianças naquele tempo, a poliomielite.
Das três raparigas, duas foram costureiras, a outra bordadeira, o rapaz sapateiro.
Assim cresciam modestamente, com a ajuda do filho mais novo, dócil e robusto, muito trabalhador, o braço direito dos pais e muito admirado por todos.
Mas o trabalho no campo era tanto e tão duro que o pobre rapaz, cansado e triste, começou a pensar: porque é que não nasci coxo como os meus irmãos?... trabalho de sol a sol, como um galego!... e não ganho nada, eles ao menos não andam ao frio, chuva e vento e ainda ganham uns centavos.
Pensou, pensou! “Isto tem de mudar!”.
Uma noite fechou-se na pequena oficina do irmão, pegou numa das suas botas forrada a brochas para que durassem muitos anos, puxou pelas ferramentas que tinha à mão, a sobela e o alicate, e abriu a sola da bota. “E se eu pusesse uma pedra entre a sola e a palmilha?...decerto vai dar para coxear…”. Assim fez e coseu tudo de novo para que nada se notasse.
No dia seguinte, ao calçar as botas, uma mais alta que a outra, já estava coxo. O engenho correra bem!
Começou a queixar-se “Ai a minha perna!, ai a minha perna!” e os pais, muito preocupados, sem saberem que fazer, lamentavam-se “Era só o que nos faltava, não ficou com mazela em pequeno, apareceu-lhe agora!”.
Sem terem a quem recorrer, convencidos que ele não podia continuar a trabalhar no campo resolveram mandá-lo aprender uma profissão, talvez alfaiate.
Foi o que ele quis ouvir. Aprendeu depressa, era tanta a vontade de mudar de vida.
Foi um alfaiate famoso nas redondezas. Fazia de tudo. De fatos para casamentos a mortalhas para mortos!
A bota, que agora já não lhe fazia falta, foi atirada para um canto da oficina do irmão, até que este, um dia, ao desmanchá-la, para aproveitar algum pedaço para remendos, descobriu o mistério do alfaiate da pedra no sapato.

Celeste Pastilha
Junho 2018


 
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Como se diz "GOSTO" em duas ideias tão diferentes, sem emojis mas com emoção?
Abçs da
bettips