Junto
duas respostas de “alunos” da Universidade Sénior de Ourém na
disciplina (indisciplinadíssima…) Oficina
de escrita e leitura,
onde falo do PPP, e ao desafio para trabalho de casa; relativamente
ao texto de Celeste Pastilha tive de passar ao computador o
manuscrito e dar umas “limadelas”, quanto ao do Eduardo Graça
nem procurei corrigir as imprecisões que ele próprio detectou ao
ler (pedra
do
em vez de no
sapato…
e talvez devesse dizer-se pedras
em pés descalços!).
Claro
que, se te parecer interessante, poderás publicar esta breve
explicação e os textos, o que seria uma excelente surpresa para os
autores.
Zambujal
O
ALFAIATE DA PEDRA NO SAPATO
Conta-se
na minha aldeia que ali perto viveu, há muitos anos, uma modesta
família de agricultores. Tinha cinco filhos, quatro deles
deficientes e incapazes de ajudarem os pais nas lidas do campo, de
onde lhe vinha a subsistência, e só o mais novo ajudava nessas
lidas.
Os
outros filhos, três raparigas e um rapaz, foram ajudados a aprender
profissões que pudessem exercer sentados porque as suas limitações
eram nos membros inferiores, talvez causadas pela terrível doença
que então atingia tantas crianças naquele tempo, a poliomielite.
Das
três raparigas, duas foram costureiras, a outra bordadeira, o rapaz
sapateiro.
Assim
cresciam modestamente, com a ajuda do filho mais novo, dócil e
robusto, muito trabalhador, o braço direito dos pais e muito
admirado por todos.
Mas
o trabalho no campo era tanto e tão duro que o pobre rapaz, cansado
e triste, começou a pensar: porque é que não nasci coxo como os
meus irmãos?... trabalho de sol a sol, como um galego!... e não
ganho nada, eles ao menos não andam ao frio, chuva e vento e ainda
ganham uns centavos.
Pensou,
pensou! “Isto tem de mudar!”.
Uma
noite fechou-se na pequena oficina do irmão, pegou numa das suas
botas forrada a brochas para que durassem muitos anos, puxou pelas
ferramentas que tinha à mão, a sobela e o alicate, e abriu a sola
da bota. “E se eu pusesse uma pedra entre a sola e a
palmilha?...decerto vai dar para coxear…”. Assim fez e coseu
tudo de novo para que nada se notasse.
No
dia seguinte, ao calçar as botas, uma mais alta que a outra, já
estava coxo. O engenho correra bem!
Começou
a queixar-se “Ai a minha perna!, ai a minha perna!” e os
pais, muito preocupados, sem saberem que fazer, lamentavam-se “Era
só o que nos faltava, não ficou com mazela em pequeno, apareceu-lhe
agora!”.
Sem
terem a quem recorrer, convencidos que ele não podia continuar a
trabalhar no campo resolveram mandá-lo aprender uma profissão,
talvez alfaiate.
Foi
o que ele quis ouvir. Aprendeu depressa, era tanta a vontade de mudar
de vida.
Foi
um alfaiate famoso nas redondezas. Fazia de tudo. De fatos para
casamentos a mortalhas para mortos!
A
bota, que agora já não lhe fazia falta, foi atirada para um canto
da oficina do irmão, até que este, um dia, ao desmanchá-la, para
aproveitar algum pedaço para remendos, descobriu o mistério do
alfaiate da pedra no sapato.
Celeste Pastilha
Junho
2018
1 comentário:
Como se diz "GOSTO" em duas ideias tão diferentes, sem emojis mas com emoção?
Abçs da
bettips
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