Dia 26 - Fotografando as palavras de outros. Desta vez é David Mourão-Ferreira o escolhido. Talvez, quem sabe, porque andei de eléctrico há pouco tempo. No conhecido 28 que atravessa uma parte de Lisboa, onde de certo modo senti, nas pessoas que nele viajavam nesse domingo de risos felizes em família, o desconforto que, suponho, será a sua realidade mais penosa nos outros dias da semana.
PEQUENA ODE A UM CARRO ELÉCTRICO
Colectivo sarcófago ambulante,
conduzes centos de almas, dia a dia
(ó morte desleal de cada instante!),
para a conquista pávida, incessante,
do envenenado pão do dia-a-dia.
Por isso te ergo a símbolo quase eterno,
ó provisória barca do Inferno!
Obra Poética (Tempestade de Verão), David Mourão-Ferreira, Editorial Presença, 2ª edição, Julho de 1996
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