quinta-feira, março 08, 2012

8. M.



Era uma vez um edifício muito alto que morava numa cidade à beira-rio. Reparei nele. Sobressaía num bairro de ancestralidades e estilos diferentes do seu pelo que dei comigo a pensar no que teria sentido ao ir pouco a pouco tomando consistência entre a terra e o céu, encaixado naquele espaço de criações outras que não a sua. E imaginei que poderia ter estranhado vizinhança tão diversa, o que o levaria a recolher-se atrás dos pequenos rectângulos marcados no corpo que, à distância do meu olhar, me pareciam janelas fechadas. Mas, tanto quanto me é dado fantasiar, a presumível desconfiança e desajuste iniciais entre os residentes ter-se-á dissipado com a convivência diária. E de tal forma íntima ela se tornou, suponho, que a ampla parede do jovem edifício passou a ser lugar de encontro para o pensamento do olhar.

M

9 comentários:

do Zambujal disse...

Gostei muito.
E aqui estamos nós, neste "lugar de encontro para o pensamento do olhar". Como são precisos espeços assim!

~pi disse...

belo espelho das idiossincracias que se desvanecem e por vezes se afagam :-)








~

Luisa disse...

Belo o texto e bela a foto mas duvido que espaços tão diferentes se tenham integrado bem. O novo fica atrás das suas janelas/paredes e os velhos escancaram-se para o azul do céu e do rio.

Justine disse...

Acho a tua bela história uma espécie de conto de fadas: porque o novo e díspare edifício, a pouco e pouco, por um fenómeno de mimetismo invulgar, passou a ser também os seus velhos vizinhos!E juntos viveram felizes:-))

mena maya disse...

até me parece ver um sorriso numa daquelas janelas, que não se cansam de se ver ao espelho!
Belos o texto e a foto!

bettips disse...

Espelho de cidade
e os seus contrastes. Onde habita a beleza, ainda, na vida que se assume: não no vidro
mas nas outras janelas; que não são escritórios, empresas, distribuidoras: são gente, são roupa a secar, são floreiras e varandas.
Gosto deste riso do prédio em frente.

Licínia Quitério disse...

Que interessante o teu pensamento sobre esta vizinhança do novo e do velho nele espelhado. Uma metáfora talvez do passar do tempo, aglutinador de passado e presente.

Anónimo disse...

Um bairro a mirar-se ao espelho! E como são diversas as opiniões sobre o mesmo olhar...
Agrades

Benó disse...

Era uma vez as vizinhas a conversar duma janela para a outra.